Suaveolens

Este blog foi criado por um cearense apaixonado por plantas medicinais e por sua terra natal. O título Suaveolens é uma homenagem a Hyptis suaveolens uma planta medicinal e cheirosa chamada Bamburral no Ceará, e Hortelã do Mato em Brasília. Consultora Técnica: VANESSA DA SILVA MATTOS

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Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil

Cearense, nascido em Fortaleza, no Ceará. Criado em Ipueiras, no mesmo estado até os oito anos. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco, na Universidade Rural. Obteve o título de Mestre em Microbiologia dos Solos pelo Instituto de Micologia da Universidade Federal de Pernambuco. Também obteve o Mestrado e o Doutorado em Fitopatologia pela Universidade de Brasília. Atualmente é pesquisador colaborador da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.

10.9.14

PLANTAS MEDICINAIS, PRIMEIROS PASSOS

Por
Jean Kleber Mattos

O que uma pessoa iluminada? São iluminados Ghandi? Einstein? Madre Tereza de Calcutá? Martin Luther King? Madre Paulina? Claro que sim. Seus feitos em prol da paz e do progresso da humanidade são incontestes.
Certa vez, durante uma reunião da comunidade universitária da qual eu participava, discutia-se os rumos de uma greve. Em determinado momento um aluno pediu a palavra e pediu aos professores presentes que esclarecessem um ponto obscuro qualquer, não me lembro bem qual. Não sem certa ironia, disse que aguardava o esclarecimento pois era um aluno, o que significa não iluminado (alumni).
Cada um de nós obviamente tem a sua lista de iluminados. Não se trata de santos nem de grandes líderes carismáticos ou cientistas da estatura de Einstein. No entanto foram pessoas capazes de nos encantar e merecer nossa admiração e amizade pelo idealismo, dedicação, honestidade, bom humor e outras tantas qualidades. Também tenho minha lista. Eles vão ser referidos à medida em que segue a narrativa.
Corria o ano de 1979. Uma estudante de meu departamento de nome Maria das Graças, uma mineira, procurou-me para que eu a orientasse em um trabalho final do curso de agronomia. O assunto era Plantas Medicinais. Disse-lhe na ocasião que era um assunto que eu não conhecia muito embora gostasse muito dele.
Àquela época eu era apenas mais um ignorante em plantas medicinais. Como ela insistiu em cultivar as plantas medicinais, sugeri que ela trouxesse alguém com conhecimento ancestral para nos ajudar a formar uma coleção das tais plantas. Ela trouxe a própria avó. Deu certo. Formamos uma boa coleção, estabelecendo, não sem dificuldades, a classificação botânica da maioria das plantas que aquela senhora referia pelo nome popular. Este foi o começo da minha saga.
Depois de algum tempo em que a coleção fazia a delícia dos alunos que gostavam daquela matéria, apareceu em Brasília uma equipe da Rede Globo objetivando realizar uma reportagem sobre plantas medicinais.
Era o jornalista Hamilton Ribeiro que trazia uma recomendação de um colega meu da Paraíba, o farmacêutico José Maria o qual, por ocasião de uma viagem à Brasília, havia conhecido a nossa coleção. A reportagem foi ao ar no GLOBO RURAL mostrando a nossa coleção e as atividades da firma FARMACOTÉCNICA, que à época era a única firma genuinamente Brasiliense a investir em fitoterapia, com produção própria em um núcleo rural da região. Veículo poderoso, a televisão. Recebemos cerca de 15.000 cartas. O anonimato tornara-se impossível.
A firma FARMACOTÉCNICA, fundada pelo farmacêutico catarinense Rogério Tokarski, desenvolvia em Brasília uma linha de farmácia magistral com plantas medicinais. Ainda hoje é, para nós, a grande referência por aqui.
Pouco tempo depois que a reportagem foi ao ar, um estudante trouxe-me algumas plantas para que eu verificasse a classificação botânica feita por alguns amigos dele. Ele vinha de Recife. As plantas pertenciam a um horto localizado em Olinda. Falou-me do pessoal que lá trabalhava. Funcionava na Casa dos Meninos de Olinda. Era um trabalho social ligado à Secretaria de Saúde. Algum tempo mais tarde tive oportunidade de visitar o local.
Na ocasião da visita conheci a botânica Maria Luíza Rego (a Morena) e a médica Evani Araújo. Pessoas encantadoras. Conheci ainda Marcelo Mezel, um médico acupunturista, à época secretário de governo da prefeitura de Olinda. Todos trabalhando no mesmo projeto, integrando fitoterapia, saneamento básico, coleta seletiva de lixo, reciclagem etc.
Já havia em Olinda nesta época, a distribuição gratuita de remédios fitoterápicos e um posto de saúde onde se pesquisava a resposta do paciente às diversas opções de tratamento. Acompanhamento médico.
A partir daí formamos, e ainda somos, um grupo bem humorado. Quando de minhas viagens à Olinda, sempre almoçávamos juntos. Nossa refeição era regada a piadas que não perdoavam nem mesmo a medicina popular. A planta afrodisíaca “esquentai”, vendida nas feiras do Recife, era um dos motivos de gozação.
Algum tempo depois, em 1986, Pernambuco seria a sede de um evento integrador de vários pesquisadores que trabalhavam com fitoterapia, mediante um curso de Fitoterapia a nível de pós-graduação realizado em Carpina, na sede do Centro de Treinamento da EMATER-PE. O curso era coordenado pela professora Genisa Bulhões da Universidade de Recife com a assistência do marido, também professor universitário. Proferi dois módulos neste curso, em companhia de uma autoridade da Universidade do Paraná, o professor Eduardo Augusto Moreira. Neste mesmo curso reencontrei Evaní e Morena e tive o privilégio de conhecer a pesquisadora do Ceará Francisca Simões, que me foi apresentada pelo meu amigo, o professor Francisco José de Abreu Matos.
Eu havia sido apresentado ao professor Matos algum tempo antes, em Fortaleza, por ocasião do Simpósio Brasileiro de Plantas Medicinais. O fato de termos o mesmo sobrenome (o meu Mattos é com dois “tês”) chamou a atenção de todos. Ambos cearenses, mesmo sobrenome e dedicados a plantas medicinais. No entanto, salvo algum parentesco que minha mãe detectou por intermédio dos Abreu e não dos Matos, vale a expressão do próprio professor: “apenas muito bons amigos”. Muito me honraria contudo o parentesco com alguém tão iluminado. Além do mais, devo a ele ter conhecido Francisca Simões de cuja amizade fui merecedor, bem como de seu marido, um engenheiro civil a quem eu chamava de Niemeyer, uma referência ao seu envolvimento com a construção de edifícios em Fortaleza.
Mas voltando ao curso de Carpina, lá tive também o prazer de conhecer Ana, uma agrônoma impressionante que trabalhava com plantas medicinais no Jardim Botânico de Recife. A dedicação desta criatura ao trabalho com plantas medicinais era para mim um grande exemplo. Com Ana tive o privilégio de intercambiar valiosos materiais sobre o assunto, entre bibliografias, sementes e mudas.
Ainda estávamos na década de 80. O tema Plantas Medicinais ganhava força no Brasil. Algumas iniciativas no sentido de colocar a fitoterapia como opção na rede pública de saúde podiam ser percebidas em vários estados da federação. Em Fortaleza o projeto “Farmácias Vivas” do professor Matos servia de modelo. No Distrito Federal, minha amiga Maria Aparecida Costa, médica, liderava o movimento, tentando integrar elementos da universidade (UnB), da Secretaria de Saúde e da iniciativa particular. A iniciativa particular compreendia na época, a firma Farmacotécnica e a Farmácia Verde de “seo” Beija.
“Seo” Beija era um farmacêutico prático tradicional que cedera um imóvel de sua propriedade em Brazlândia, para que o governador do Distrito Federal, José Aparecido de Oliveira, lá instalasse uma farmácia viva, a qual funcionava gratuitamente sob supervisão de “seo” Beija. O filho, o médico ortopedista Inácio Republicano, também trabalhava com fitoterapia, tendo herdado do pai os conhecimentos ancestrais que incorporara ao saber conquistado na universidade. Uma amiga minha, Dra. Fábia, estagiava então na farmácia do “seo” Beija.
Algum tempo depois, quando da aposentadoria de Dra. Maria Aparecida, Dra. Fábia veio a substituí–la no cargo, na Secretaria de Saúde.
Ainda em meados dos anos 90, o Paraná mantinha uma posição de destaque quando o assunto era fitoterapia e estava promovendo cursos e simpósios sobre a matéria. Atendendo a um convite para participar de um destes eventos, tive o prazer de conhecer a médica Marli Perozin, a qual mais tarde se tornaria presidente da Associação Para Fitoterapia no Serviço Público, entidade que congregaria todos nós naquele período. 
Em Brasília existe hoje, 2014, o Núcleo de Suporte à Assistência Farmacêutica em Terapias Não Convencionais da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, chefiado por nosso amigo o farmacêutico Nilton Luz Netto Junior, que inclui a pesquisa e o fomento de plantas medicinais. 
Grande suporte para as pesquisas no Distrito Federal, Roberto Fontes Vieira, pesquisador da Embrapa-Cenargen tem colaborado fortemente com o projeto em curso atualmente na UnB.

Foto: Pesquisadores em plantas medicinais, por ocasião de um Congresso Brasileiro de Olericultura, neste evento maioria agrônomos e biólogos.

2 Comentários:

Blogger Dalinha Catunda disse...

Minha Primeira contribuição, meu amigo Jean Kleber.
****
O PICÃO ROXO
*
Andei com uma dor nos quartos
Vejam que situação.
Aí me recomendaram
Tomar um chá de picão,
Saí me maldizendo
E fui logo dizendo:
Esse diabo tomo não!
*
Mas o doutor raizeiro
Correu atrás de mim
Me chamou lá num cantinho
E já foi dizendo assim:
Experimente o tal picão
Que a sua situação
De dor vai chegar ao fim.
*
Olhei bem desconfiada
Pro vendedor de raiz
Foi quando senti de novo
Aquela dor infeliz
Era uma dor bem profunda
Subindo o rego da bunda
Se espalhando pelos quadris.
*
Eu tinha que me render
A tal fitoterapia
Mas uma dúvida atroz
De verdade me afligia
Será que o tal picão
É cipó ou solução?
A gente toma, ou enfia?
*
Era a dor me consumindo
Era bem grande a aflição
E tinha que ser do roxo
Pra fazer efeito o picão
Resolvi entrar no cipó
Se a dor de mim não tem dó
Não vejo outra solução.

Texto: Dalinha Catunda

10.9.14  
Blogger Jean Kleber disse...

Genial como sempre ! Beijo.

10.9.14  

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