Suaveolens

Este blog foi criado por um cearense apaixonado por plantas medicinais e por sua terra natal. O título Suaveolens é uma homenagem a Hyptis suaveolens uma planta medicinal e cheirosa chamada Bamburral no Ceará, e Hortelã do Mato em Brasília. Consultora Técnica: VANESSA DA SILVA MATTOS

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Cearense, nascido em Fortaleza, no Ceará. Criado em Ipueiras, no mesmo estado até os oito anos. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco, na Universidade Rural. Obteve o título de Mestre em Microbiologia dos Solos pelo Instituto de Micologia da Universidade Federal de Pernambuco. Também obteve o Mestrado e o Doutorado em Fitopatologia pela Universidade de Brasília. Atualmente é pesquisador colaborador da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.

20.4.13

SEU MUNDO RICARDINO


"Seu Mundo Ricardino" - Por Walmir Rosa de Sousa

Esta crônica foi publicada originalmente no blog primeiracoluna.blospot.com.br em 13 de abril de 2005 por Carlos Moreira


Passada a primeira infância, em que a moda, na época, eram grandes cachos de cabelos (talvez uma influência tardia da moda francesa imortalizada pelos Reis de França, de Luís XIII a XVI), fui levado por meu pai, Wencery, à Barbearia do Seu Mundo Ricardino, que ficava ali vizinho à casa do Seu Luís Malaquias, defronte à Padaria do Mestre Laurindo, para fazer um corte à moda Príncipe de Gales (corte militar, de influência britânica).

Seu Raimundo Ricardino, ou "Seu Mundo", como todos o conheciam, um homem alto, ereto, cabelos de corte militar, à máquina, vendo meu diminuto tamanho, colocou sobre a cadeira um banquinho de madeira para que eu alcançasse altura suficiente para dar acesso à tesoura e à maquina. Senti um estranho poder naquele homem; de um momento a outro, de um bebê me transformou num homem. A partir daí, passei a admirá-lo e a observá-lo.

Seu Raimundo Ricardino em ação (foto - acervo pessoal de Edson Morais)

Nas minhas andanças de menino de cidade do interior, fuçava, juntamente com os colegas (dos quais, em futuro, pretendo falar) todos os recantos da urbe (cidade grande tem que ser chamada assim - em latim) e vi que Seu Mundo também tinha outra habilidade: tocava tuba na Banda de Música da Paróquia, que animava todas as festividades religiosas da terra (quem não se lembra dos dobrados na calçada da igreja e dos curtos acordes depois de cada arremate nos leilões beneficentes na Festa da Padroeira?).

Fiquei freguês. Por morar perto, muitas madrugadas corria para o quartinho da Banda para, com outros meninos, acompanha-la até o patamar da Igreja onde, depois da missa, havia uma retreta (para os mais novos, concerto de uma banda de música em praça pública). E ele lá estava com sua tuba, juntamente com Seu Catunda, no bombardino; Tunga, no bumbo; Antônio Jardelino, no trombone, e outros de cujo nome não lembro (me desculpem) executando seus respectivos instrumentos.

Seu Mundo era o maior de todos e tocava o instrumento maior. Tinha tudo a ver com "mundo". E aquele grande homem não era só isso, não. Nas noites ipueirenses comandava o "espetáculo da luz". Era ele, e só ele, quem iluminava a cidade, por ser o encarregado pelo funcionamento e manutenção do "Motor da Luz" (era assim que toda a gente chamava), e todas as noites, com seu enorme e estranho poder, mandava todos dormir, ao "dar sinal" de que, em meia hora, iria desligar a luz.

Até hoje, no meu pensar, tenho plena convicção de que SEU MUNDO ERA O HOMEM DE MAIOR PODER EM IPUEIRAS, pois, homem de muitas habilidades, transformava crianças em homens, com um simples corte de cabelo, tinha o poder supremo de acordar a cidade com as alvoradas da Banda e, ao fim do dia, dava o toque de recolher, ao apagar a luz, mandando todos dormir. Como não tinha instrução suficiente para compreender que "mundo" era um apelido derivado de "Raimundo", seu nome, achava que "mundo" era por conta de seu poder. Quase "Dono do Mundo".

"Seu Mundo Ricardino", no lugar onde estiver, representado por seus familiares, merece receber, de toda a comunidade, a homenagem de figurar no rol das Personalidades Ipueirenses, pelos relevantes e inolvidáveis serviços prestados à nossa terra. *PC*

Walmir Rosa de Sousa, é ipueirense e procurador de justiça no Estado do Ceará além de grande cronista da cidade de Ipueiras. Este é um currículum provisório, devendo ser complementado oportunamente para uma adequada apresentação.



3 Comentários:

Blogger Jean Kleber disse...

Maravilhosa crônica, amigo Walmir. Parabéns!

20.4.13  
Anonymous Anônimo disse...

Jean Kleber,
Ao ler a crönica do Walmir, me inseri no contexto. Fui muitas vezes tocado pelo pente, tesoura e mãquina de cortar cabelo do seu Mundo e saia de sua barbearia devidamente identificado como menino, pois, na epoca, cabelo comprido era so para meninas. Talvez, com o advento do Beatles e da turma da jovem guarda, diminuiu muito a frequencia da meninada ao quartinho do nosso homenageado. Tambem fiz parte do grupo de 'cabelos grandes e ideias curtas' que ensejou ao desaparecimento da profissao do barbeiro profissional. A crônica trouxe-me tambem a
lembrança do Prof Horacio Didimo lendo um poema de Carlos Drumond, do qual transcrevo uma das estrofes a seguir

Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Abraços do Tadeu Fontenele.

21.4.13  
Blogger Dalinha Catunda disse...

A crônica de Walmir nos leva a uma saudosa Ipueiras que jamais sairá da memória dos que lá viveram.
Aqui estou matando a saudade de Ipueiras e também do amigo Walmir.
Meu abraço a todos.

21.4.13  

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