Suaveolens

Este blog foi criado por um cearense apaixonado por plantas medicinais e por sua terra natal. O título Suaveolens é uma homenagem a Hyptis suaveolens uma planta medicinal e cheirosa chamada Bamburral no Ceará, e Hortelã do Mato em Brasília. Consultora Técnica: VANESSA DA SILVA MATTOS

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Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil

Cearense, nascido em Fortaleza, no Ceará. Criado em Ipueiras, no mesmo estado até os oito anos. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco, na Universidade Rural. Obteve o título de Mestre em Microbiologia dos Solos pelo Instituto de Micologia da Universidade Federal de Pernambuco. Também obteve o Mestrado e o Doutorado em Fitopatologia pela Universidade de Brasília. Atualmente é pesquisador colaborador da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.

19.2.12

SUFOCO NO CASARÃO

Autor:
Gonçalo Felipe

Oh Deus que tudo ilumina
Vem me dar inspiração
Para eu contar uma história
Fruto da imaginação
De um caso muito engraçado
Que se deu num casarão

Esse caso aconteceu
Num certo tempo passado
Dentro de um casarão
Escuro e abandonado
Bem perto de Ipueiras
Ali por aquele lado

Por lá corria um boato
Que dentro do casarão
Sexta-feira à meia noite
Ocorria assombração
Por causa de uma botija
Existente no porão

Só tinha uma condição
Para quem fosse arrancar
Tinha que ser sexta-feira
O dia para arriscar
Chegar lá à meia noite
E no casarão escuro entrar

Não apareceu ninguém
Prá entrar no casarão
Quem olhava tinha medo
Suava e tremia a mão
Até de dia corria
Com medo de assombração

Até que um certo dia
Dois vendedores de feiras
Chegaram do Pé da Serra
Fazendo maior zoeiras
Mangando do Casarão
Pelas ruas de Ipueiras

Um se chamava Francisco
E o outro era Gonçalo
Metidos a corajosos
Força igual um cavalo
Destes que comem a fruta
Com casca, caroço e talo

Tomaram conhecimento
Da história do casarão
Disseram: "em Ipueiras
Só existe homem "bundão"
Nós vamos lá hoje mesmo
Sexta-feira da Paixão"

Eles ficaram mangando:
Dizendo "é tudo besteiras
Não existe nada disso
Parem de falar asneira
Casarão mal assombrado?
Só mesmo em Ipueiras"

Quando o relógio marcava
cinco para meia noite
Entraram no casarão
Diz Gonçalo, não se afoite
As portas velhas se batem
É o vento que dar açoite

Já dentro do casarão
Escuro igualmente a breu
O Francisco babatando
Nem via o amigo seu
Quando escutou um rangido
Seu corpo todo tremeu

Na verdade, foi um rangido
Da porta velha batendo
O Gonçalo no escuro
Também estava tremendo
Dando gritos de pavor
De um lado à outro correndo

Não acertavam a saída
Devido a escuridão
Esqueceram da botija
Era a maior aflição
O Francisco só faltava
Vomitar o coração

A porta velha se abriu
Entrou por ela um clarão
A sombra de alguns galhos
Se desenhava no chão
Eles gritando diziam:
Valei-nos S. Damião

Chamando tudo que é santo
Inclusive a padroeira
Por Cristo, por S. Gonçalo
Santo de toda maneira
Passaram por uma brecha
Saíram em toda carreira

Quando pararam ficaram
Um para o outro olhando
Assim meio desconfiados
Um ao outro observando
É que catinga de bosta
Os dois estavam soltando

-- Gonçalo tu tá “sujado”
-- Francisco tu também tá
Vamos se lavar no açude
Nessa hora ninguém tá lá
Ou é melhor agente ir
Se lavar no Jatobá?

Lavamos aqui ou lá e vamos
Sumir já dessas ribeiras
E falar em casarão
Nem mesmo de brincadeiras
Nunca mais se tira "sarro"
Dos homens de Ipueiras

Aqui vou encerrar
Minha história engraçada
De Gonçalo e de Fracisco
Metidos numa enrascada
Sei até hoje não foi
A tal botija arrancada.
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Gonçalo Felipe é o poeta de Nova Russas que colabora com o blog "Suaveolens" mediante seus poemas bem atualizados e sensíveis sobre nossa civilização, nossas vidas e nossos sentimentos.




NOTA DO BLOG: esta aventura foi vivida pelo ipueirense Francisco Costa e pelo novarussense Gonçalo Felipe nos idos do século XX. Segundo nosso conterrâneo Glauber Catunda, a casa que aparece na imagem foi do avô dele Otacílio Mota. Hoje quem reside são seus pais Antônio Manoel Peres Neto e Cleide Catunda. A casa continua como está na foto.

15.2.12

QUANDO O SOL FOI VAIADO

Por
Bérgson Frota
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São coisas do Ceará, haveria de dizer quem ouvisse tal estória, mas foi, o sol foi vaiado há 70 anos e justo na “Terra do Sol”.
O cenário, início de uma manhã cinza e lenta de sexta-feira, 30 de janeiro de 1942.
A Praça do Ferreira estava movimentada, com seus bancos lotados, costume na época, nas bancas os jornais a estampar as últimas notícias da guerra.
Naquele folclorico dia Fortaleza amanhecia pela segunda vez nublada, e tudo a indicar que naquela ainda pequena, bucólica e distante capital de província, se viveria mais um dia frio, com céu prestes a ribombar de trovões e certamente a seguir uma grande chuva.
Na época, o povo gostava do bem vestir, e o fazia à moda européia. Paletós e chapéus aos cavaleiros, a as belas donzelas traziam uma bem recomendada sombrinha de abas bordadas, matronas ainda a usar chapéus copiados ou vindos de estoques já passados da moda parisiense.
Todos portanto estavam envolvidos numa fria, confortável e desejável atmosfera européia.
Foi quando subitamente o sol apareceu, quase com um prazer vingativo, esquentando a apinhada praça e por conseguinte o resto da cidade.
Não demorou a vaia dada por inúmeras pessoas na Praça do Ferreira.
Ao aparecer, o sol frustrava um desejo a um prazer coletivo, gerando por segundos um sentimento de indignação vindo de toda a população da praça.
Naquele dia o sol foi o pior dos protagonistas. Foi ele rapidamente esquentando o dia e levando para longe a fria e desejada atmosfera setentrional.
As senhorinhas raivosas bem como toda a “elite” a ostentar seus negros paletós ,cartolas e chapéus, rápido procuraram abrigo em cafés e doceterias.
O dia foi do sol que se pôs no seu horário normal, também os dias seguintes voltou a brilhar por todo dia, talvez como rebeldia pela forte vaia levada, vaia que certamente jamais esperou.
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Nota : naquela época os jornais saíam à tarde , esta é a edição de O Povo do mesmo dia.
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Bérgson Frota escritor, contista e cronista, é formado em Direito (UNIFOR), Filosofia-Licenciatura (UECE) e Especialista em Metodologia do Ensino Médio e Fundamental (UVA), tem colaborado com os jornais O Povo e Diário do Nordeste, desenvolvendo um trabalho por ele descrito de resgate da memória cultural e produzindo artigos de relevância atual.

6.2.12

SEM MEDO DE MONTAR

Por
Dalinha Catunda
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*Andei montando um cavalo,
Pras bandas do meu sertão.
Sua fama percorria
Toda aquela região.
Em cavalo não confio,
Porém sendo desafio,
Encara a situação.

*Ele me olhou de soslaio
Porém não me intimidou.
Passei a perna por cima,
A sela me acomodou
Eu gostei da montaria,
Ele bravo se exibia,
Só que não me derrubou.

*Pra ver sua reação,
Eu enfiei o chicote.
Ele então me chacoalhou,
E disparou no pinote
Numa aventura assassina,
Segurei na sua crina
Me enroscando em seu cangote.

*Horas me faltava céu.
Horas me faltava chão.
Hora nenhuma faltou,
Foi mesmo disposição.
Porém ele parecia,
Que aos poucos esmorecia,
Penando em minha mão.

*Se o bruto ficou domado,
Isto não posso dizer.
Só sei que segue meu rastro
Isto posso perceber,
Escuto seu relinchar
Porém só volto a montar
Atendendo o meu querer.
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Figura da mulher domando o potro: obtida no site google.com.br
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Maria de Lourdes Aragão Catunda, nascida em Ipueiras-Ceará, é conhecida nos meios literários como Dalinha Catunda, é poetisa, cordelista e cronista, sendo membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel. Também tem blog próprio - cantinhodadalinha.blogspot.com.

3.2.12

ANDANDO PELO SERTÃO

Por
Dalinha Catunda.

Eu voltei ao Ceará
Fui rever o meu rincão.
Passeei pelas caatingas
Pisei com gosto em meu chão
Coloquei o meu chapéu
O sol ardia no céu
No calor do meu sertão

*Subi no pé de caju
Como fazia em menina.
Peguei no pé de angico
Um pouquinho de resina
Abracei carnaubeira
A conhecida palmeira
Desta terra alencarina.

*No caneco de alumínio
Água de pote bebi.
Tinha pedras no caminho
Em cima duma subi
Fiz uma farra danada
Andando pela estrada
Da terra em que eu nasci.

*O tempo passou bem rápido,
Achei que passou ligeiro,
Pois já estou novamente
É no Rio de Janeiro!
Terra de são Sebastião
Distante do meu sertão
Ô destino aventureiro!


Maria de Lourdes Aragão Catunda, nascida em Ipueiras-Ceará, é conhecida nos meios literários como Dalinha Catunda, é poetisa, cordelista e cronista, sendo membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel. Também tem blog próprio - cantinhodadalinha.blogspot.com.

2.2.12

LIVRO DE BÉRGSON FROTA EM 2012

"Este livro foi escrito com o propósito de lembrar, e nesta lembrança tocar quem da cidade conheceu seus personagens. Nele está uma tênue nostalgia, uma lembrança tardia, que por mais que queiramos, não volta mais. Tudo se vai, registremos e aproveitemos as histórias, que apesar de terem sido escritas por uma mão, sobre ela pesaram a mão de todos os ipueirenses."
Bérgson Frota
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NOTA DO BLOG
O livro apresenta vinte e cinco crônicas, sobre personagens marcantes da história de Ipueiras. Pelos títulos quase sempre é possivel saber de quem se trata:
- O ultimo carnaval
- À mestra com carinho
- As pernas da Carolina
- O caixão escondido
- E o mudo falou
- Boré
- O forró da lua cheia
- O fotógrafo da vida
- Do diário de um pracinha
- Era uma vez seu Idálio
- A pena e o tinteiro
- O jumento cantador
- O velho e o rio
- O profeta da lua
- O berro do bode
- A dama e o piano
- O galo dourado
- A obra prima
- O gênio sonhador
- O vestido de Madalena
- Lembrança de um tio
- O louco Zacarias
- O poeta dos passarinhos
- O telogo
- O saudoso locutor