Suaveolens

Este blog foi criado por um cearense apaixonado por plantas medicinais e por sua terra natal. O título Suaveolens é uma homenagem a Hyptis suaveolens uma planta medicinal e cheirosa chamada Bamburral no Ceará, e Hortelã do Mato em Brasília. Consultora Técnica: VANESSA DA SILVA MATTOS

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Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil

Cearense, nascido em Fortaleza, no Ceará. Criado em Ipueiras, no mesmo estado até os oito anos. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco, na Universidade Rural. Obteve o título de Mestre em Microbiologia dos Solos pelo Instituto de Micologia da Universidade Federal de Pernambuco. Também obteve o Mestrado e o Doutorado em Fitopatologia pela Universidade de Brasília. Atualmente é pesquisador colaborador da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.

29.7.10

O PROGRESSO REVOLTANTE


Por
Gonçalo Felipe

No meu sertão, com a chuva ou com o calor
O sertanejo coitado, muito se esforça.
Trabalhando de manhã à noite em sua roça
O que produz é com sofrimento e muita dor
Mesmo assim ele se entrega com muito amor
Produzindo: algodão, arroz, feijão e milho
Tirando um pouco para o sustento do seu filho
E o pouco quando sobra, o coitado vende
Porém o sofrer não ameniza, só se estende
No meio de tantas lutas e duro impecilho.

De uma forma ou de outra o meu sertão
Também contribui para o nosso progresso
No entanto é muito triste ver que é o inverso
O retorno que nos chega da querida Nação
Se o São Francisco nos oferece a transposição
Aparece um alguém que se mostra contrariado
Tem político assim, como senador e deputado.
Até religioso fazendo uma tal greve de fome
Sem ligar para a que de verdade nos consome
E como se matar a nossa fome fosse pecado.

No momento o que vejo em meu querido sertão
É a falta que fez a água este ano não correr no rio
O pássaro Carão também não cantou no baxio
E só nos restou mesmo foi a quentura do verão
Muito diferente mesmo daquela outra ocasião
Em que as águas chegaram carregando tudo
Mas, quem tem autoridade para falar, fica mudo
Diante deste sofrimento que assola o sertanejo
Eu que participo também desta dor e não vejo
Como ficar calado mediante à tamanho absurdo.

Nestes versos eu quero aproveitar para pedir:
Aos senhores da política, algum deputado.
Por ventura se alguém lá do nosso Senado
Que com a sua boa vontade possa contribuir
Para ajudar o meu sertão dessa mesmice sair
Por favor, senhores olhem-no mais de perto!
O progresso se feito desse jeito não é certo
É manter o sertanejo de certa forma castigado
Por alguns políticos que o deixa até alienado
Enquanto o sertão fica cada vez mais deserto.

Meu sertão, necessitado que tanto me cativa
Onde os políticos já começam a aparecer
Mas quando chega a hora de vir nos socorrer
Com nojo viram a cara, excluindo saliva.
Em lugar onde tem uma cooperativa,
Sem ter produtos, o movimento é fechado.
E o sertanejo labutando no roçado
Sem sequer ter um arado um só instante
Então eu acho ser o progresso revoltante
Neste pedaço de chão tão discriminado.

Meu sertão está sendo de tal forma visitado
Que que não tem costume com isso, estranha.
Tem político afirmando que é quem ganha.
Percorrendo ao quatro cantos do estado
Até nas feiras o matuto está sendo abordado
Com aquelas promessas que não se cumprirão
Recebe abraços e é chamado de "meu irmão"
Com tapinhas nas costas, ou coisa parecida
Falando que conhece o problema de nossa vida,
E que ganhando vai trazer para nós a solução.

"Empenharei o último brilhante da minha coroa
Mas um cearense não morrerá de fome"
O imperador que falou isso tem renome.
E por certo isso não foi falado de forma atoa
Porém tem gente que quando lê isso hoje caçoa
Mediante ao que se vê diante de cruel realidade
Desde de o tempo do Império o que se tem de verdade
É que o nordestino sempre fica em um segundo plano:
Entregue à sua própria sorte, e em cruel desengano
De uma maneira desumana, para não dizer, covarde!

No meu sertão é comum encontrar um sertanejo
Dirigir sem ter a sua carteira de motorista
Pois no exame só passa se for no de vista
Já que o seu nome ele não sabe como assinar
Não aprendeu, não teve oportunidade de estudar
Dentro do mato ele nasceu e cresceu lá esquecido
Para o governo, sendo mais um que foi nascido
Pouco o importa que seja mais um analfabeto
Revoltante é achar que isso está correto
E fechar os olhos, para o fato acontecido.

No momento em que eu escrevo estes versos
Está aqui um candidato à presidência
Abraçando a todos, cheio de benevolência.
E andando por lugares mais diversos
Empregando em seus discursos controversos
Uma linguagem que até criança a entende.
O sertanejo que por certo compreende
E na hora de dar o seu voto ele decidirá
O que será melhor para o nosso Ceará
Como todo sertanejo, que sofrendo aprende.

Ao finalizar, dirijo-me particularmente
Ao cunho de um competente professor
Já que esses meus versos não são de amor
E a análise caberá em princípio a ele somente.
Ele é quem decidirá se achar conveniente
De fazer em seu blog mais uma postagem.
Pois abordei um assunto com muita coragem
De forma clara, objetiva e bem segura.
Até porque não temos mais uma ditadura
E temos livre a nossa expressão de linguagem.

Fim.
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Em 28 de julho de 2010 (21:25hs)
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Figura: desenho do saudoso Henfil : site yukitori.wordpress.com


Gonçalo Felipe é o prestigiado poeta de Nova Russas que nos brinda com poesias sobre nós, sobre Ipueiras, sobre nosso pé de serra, enfim sobre a vida de todos nós.

25.7.10

AMOR SEM FIM

Por
Luiz Alpiano Viana

Se o amanhã não vier,
é porque atendi ao chamado do Mestre.
Mas se eu não for,
contigo estarei e te levarei orquídeas do cerrado,
colhidas nas primeiras horas do amanhecer.

A caminho já está o velho entregador de rosas.
Das mais belas que encontrei,
numa vi teus olhos;
noutra, o sabor de teus beijos;
e na mais simples, a tua timidez de mulher feliz
e encantadora.

À noite, a lua – às pressas – tece nosso cobertor de linho,
e a praia como leito dos antigos poetas
envaidece-se por nos acolher sozinhos.

Todo o sentimento de mulher que tens
não divulgues por ser o antídoto de minha tristeza!
Quando dela sofro,
Logo cuidam tuas mãos de um carinho que cura
e sara sem mesquinhez.

Se lograr êxito meu desejo,
e tuas mãos se sentirem nas minhas,
o cântico melodioso da floresta ressoará sobre nós
e nos carregarão nas asas, os passarinhos.

Se as luzes de meus olhos te alcançarem,
é porque diluíram nossos sonhos em puro vinho.
E o amargo nas taças que eu encontrar,
haverá de estar comigo até o fim.

Aumenta, meus desejos, minha ansiedade.
Não fujas dos sonhos de minha alma
que se acendem como um raio com teu jeito de mulher.
Peço-te que me ames, que me beijes,
que me cheires, que me abraces.

Os versos que profiro de memória
são o perfil de quem ama sem melindres.
Tenho crido que o lugar onde moras
há muitas flores, lagos e jardins

Não voltes mais feia nem mais magra;
não voltes mais gorda nem mais bonita.
Mas volta tu mesma com tudo e mais,
que mesmo assim serás bem vinda!

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Foto site:zhuhai.expat9.com/files/slideshow/Endless%20Love.jpg
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Luiz Alpiano Viana, é um ipueirense apaixonado por sua terra natal. As suas memórias e saudades de Ipueiras estão sempre presentes em suas crônicas, a exemplo de “Saudade” e “O astuto cirurgião”, narrativas que trazem de volta velhas e boas recordações. Tendo morado na cidade de Crateús/CE e em Brasília/DF, atualmente reside em Forteleza/CE e é funcionário aposentado do Banco do Brasil.

24.7.10

O TEMPO DO TREM EM IPUEIRAS

Por
Bérgson Frota

Circundando montes e cruzando pontes, cuja água abaixo, vindo de várias fontes, inundava os diversos rios. O trem corria, rasgando as verdes matas, quando era inverno.
No verão, era a caatinga que pintava o quadro amarronzado, e verde, as carnaúbas uma e outra, feito pequenos pontos lá longe a parecerem alto oásis, alentando a esperança dos que no trem fitavam a aridez temporária no sertão.
Dentro, em contínuo sacolejar, os passageiros faziam uma viagem que durava um dia.
Vindo de Crateús, o trem chegava à Ipueiras entre quatro às cinco da manhã.
No bairro da Estação, vendedoras de café, bolos, batatas, doces, pamonhas, tapiocas não faltando para esquentar a velha cachaça.
No trem se ouvia músicas de rádios portáteis ou gravadores. Dormia-se, almoçava-se e enfim muito se conversava.
Toda viagem era uma rápida expedição a cada cidade, que por já possuir linha férrea era ponto de parada e vista.
Depois de riscar feito uma centopéia mecânica num constante andar barulhento, tanta terra e cidades, entrava em Fortaleza, no amarelado sol das cinco.
Começávamos do trem a divisar longe os arranha-céus. Primeiro o enorme exército de carnaúbas de ambos os lados e finalmente, já com o anoitecer, chegava-se a Estação Ferroviária.
Pedaços de lembranças, narrativas ricas de uma época que não volta mais.
Assim foi o tempo do trem em Ipueiras, tempo este que deixou saudades.

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Publicado no O Povo (Fortaleza-Ce) em 12.06.2010
Foto: corneliodigital.com

Bérgson Frota, escritor, contista e cronista, é formado em Direito (UNIFOR), Filosofia-Licenciatura (UECE) e Especialista em Metodologia do Ensino Médio e Fundamental (UVA), tem colaborado com os jornais O Povo e Diário do Nordeste, desenvolvendo um trabalho por ele descrito de resgate da memória cultural e produzindo artigos de relevância atual.

PERDI MEU TREM

Por
Dalinha Catunda

Às vezes me bate saudades
Das coisas do meu sertão.
Do tempo que já passou
Mas ficou na recordação.
O velho trem que passava
E eu sempre me encantava
Com sua movimentação.
*
Seu Gonçalo Ximenes,
Dos Ximenes Aragão.
Chegava uniformizado,
Era o chefe da estação.
Era agente ferroviário,
Que cuidava do horário,
E o meu avô do coração.
*
Ainda hoje está de pé,
A estação de Ipueiras.
Porém já não se encontra
As famosas cafezeiras.
Já partiram para o além
Mas ainda lembro bem,
É da Maria Capoeira.
*
Era no velho quiosque
Que hoje está diferente,
Que da chuva e do sol,
Abrigava muita gente.
E quando o trem surgia
O povo eufórico corria.
Numa alegria inocente.
*
Os trilhos ainda estão lá,
Cortando o meu sertão,
Dormentes espalhados,
Por toda aquela região.
Mas só passa o cargueiro,
Pois o trem de passageiro,
Hoje é mera recordação.
*
Minha saudade é tamanha,
Que não sei nem calcular.
E quando um trem apita,
Chego a me transportar.
Viajo lá pro meu sertão!
Revejo a minha estação!
Sem ver o meu trem passar...

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Texto e imagem de
Dalinha Catunda.
30 de abril de 2010
,dia do Ferroviário.
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Maria de Lourdes Aragão Catunda – Poetisa, Escritora e Cordelista. Nascida e criada em Ipueiras-CE, conhecida popularmente como Dalinha Catunda, vive atualmente no Rio de Janeiro. Publica nos jornais "Diário do Nordeste" e "O Povo", nas revistas "Cidade Universidade" e "Municípios" e nos blogs: Primeira Coluna, Ipueiras e Ethos-Paidéia. É membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel. É co-gestora convidada do blog Suaveolens, além de ter blog próprio: (cantinhodadalinha.blogspot).

10.7.10

O AMANHECER NO SERTÃO - 2 (no inverno )

Por
Gonçalo Felipe


Oh! Como é lindo olhar
Novo dia amanhecendo
O sol ficando de fora
E a cachoeira gemendo
Uma Maracanã selvagem
Rasgando milho e comendo

Sertanejo se levnta
Pega no torno o chapéu
Olhando para uma enxada
como se fosse um troféu
E os raios brancos do Sol
Tomando conta do Céu

Na várzea grita o Tetéu
Se escuta um rouxinol
Vagalume se recolhe
Apagando o seu farol
Vai a noite, vem o dia
Vai a Lua e vem o Sol

O vento faz um barulho
Batendo a porta de par
Uma embaixo e outra em cima
É comum neste lugar
A esposa faz o café
Para o marido o tomar.

Apagando e acendendo
O Sol é uma lâmpada acesa
O leite mungido vem
Ainda quente para a mesa
Isso tudo é o retrato
Da nossa mãe Natureza.

07/06, 2010, 23: hs

Foto-site: i.olhares.com/data/big/13/130669.jpg

Gonçalo Felipe é o prestigiado poeta de Nova Russas que nos brinda com poesias sobre nós, sobre Ipueiras, sobre nosso pé de serra, enfim sobre a vida de todos nós.