Suaveolens

Este blog foi criado por um cearense apaixonado por plantas medicinais e por sua terra natal. O título Suaveolens é uma homenagem a Hyptis suaveolens uma planta medicinal e cheirosa chamada Bamburral no Ceará, e Hortelã do Mato em Brasília. Consultora Técnica: VANESSA DA SILVA MATTOS

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Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil

Cearense, nascido em Fortaleza, no Ceará. Criado em Ipueiras, no mesmo estado até os oito anos. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco, na Universidade Rural. Obteve o título de Mestre em Microbiologia dos Solos pelo Instituto de Micologia da Universidade Federal de Pernambuco. Também obteve o Mestrado e o Doutorado em Fitopatologia pela Universidade de Brasília. Atualmente é pesquisador colaborador da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.

29.8.09

FORTALEZA NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

Por.
Bérgson Frota
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Há exatamente setenta anos atrás, precisamente em setembro de 1939, iniciava-se na Europa a Segunda Grande Guerra.
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Fortaleza que sempre se guiou, seja na moda e nas idéias por sua fonte européia observava com atenção e receio os fatos que se desenrolavam no Velho Mundo.
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Com o início do bombardeio de cidades e a guerra se estendendo para o norte da África, o receio tornou-se medo.
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Era o ano de 1941, e Fortaleza temia também vir a se tornar um alvo de ataque aéreo, em virtude disso criou um programa de treinamento denominado “defesa passiva”.
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Na época a cidade tinha uma população estimada em 180.185 habitantes, e o medo vindo pelas notícias da Europa criava um clima de ansiedade e desassossego, despreparo e desinformação.
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Em agosto de 1942 o Brasil entrou na guerra junto aos aliados.
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As regiões do Nordeste brasileiro passaram a ser pontes à aviões norte–americanos que partiam para atacar o continente próximo. Porém a virada de perspectiva em Fortaleza se deu quando Natal por já está muito congestionada, fez surgir em Fortaleza mais uma base de ataque em direção à África.
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Agora mais do que nunca Fortaleza sentiu a necessidade de criar uma proteção eficaz, pois se via de fato sujeita aos ataques aéreos.
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Em 26 de janeiro de 1943 o jornal O Povo noticiava “foi realizado domingo, na zona fabril de Fortaleza, o segundo exercício de defesa pacífica antiaéreo, promovido pela diretoria regional...”
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Às 9h30min precisamente, os bombeiros que se localizavam na torre de comando do quartel, no edifício da Praça Fernandes Vieira (Praça do Liceu), anunciaram a aproximação dos aviões inimigos. A medida era tida como necessária para “preservar” a cidade de possíveis ataques por submarinos.
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As sirenes soaram o alarme. Os aparelhos do aeroclube do Ceará, em número de quatro, sobrevoaram a zona visada, “atacando” de preferência, os prédios do Liceu e do Corpo de Bombeiros.
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Treinamentos diários de sobrevivência eram realizados com a população. Cada simulação de bombardeio realizada pelos monomotores do aeroclube do Ceará, faziam os fortalezenses entrarem em pânico.
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Em vôos rasantes durante 30 minutos as Praças do Ferreira, José de Alencar e Praça do Liceu eram riscadas por aviões em rápidas manobras.
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O pânico não saía do imaginário dos habitantes.
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O “setor civil” orientava as famílias para pintarem de preto as vidraças das janelas e portas, impedindo que à noite a cidade ficasse vulnerável, principalmente as residências mais próximas da orla marítima
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Estas aeronaves que faziam seus vôos noturnos, não tinham luzes de navegação por serem antigas, ocorria então se amarrar lanternas nas montantes dos aviões para evitar possíveis colisões.
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Sirenes eram acionadas e o povo corria para se abrigar se caso estivessem na zona “atacada”.
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Para defender a cidade ainda foram transferidos para o farol do Mucuripe (farol velho) doze canhões da marca Krupp, com a finalidade de revidar e intimidar possíveis submarinos, tinham alcance médio de dois mil metros e sua serventia só seria de fato eficaz em luta terra-a-terra.
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Assim foi Fortaleza na Segunda Guerra Mundial, descrita numa narrativa que hoje pode até nos soar ridícula, lembremos porém que o medo e a insegurança reinantes na época geraram reações que não mediam lógica ou crítica, pesavam somente e tão somente o instinto mais forte e primário do ser humano : a sobrevivência.
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– Foto : Fortaleza início da década de 1940 – Foto Nirez
- Artigo publicado no "O Povo" em 29.08.2009
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Bérgson Frota, escritor, contista e cronista, é formado em Direito (UNIFOR), Filosofia-Licenciatura (UECE) e Especialista em Metodologia do Ensino Médio e Fundamental (UVA), tem colaborado com os jornais O Povo e Diário do Nordeste, desenvolvendo um trabalho por ele descrito de resgate da memória cultural e produzindo artigos de relevância atual.

15.8.09

LEMBRANDO O "POETA DE IPUEIRAS"

Por
Bérgson Frota
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Em 28 de julho de 1926 nascia em Ipueiras um dos seus mais célebres filhos , Jeremias Catunda Malaquias, filho de Luís Malaquias e Maria Catunda.
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Sendo o primogênito de uma família de cinco filhos este poeta, cronista e escritor dedicou toda a sua vida a divulgar sua terra com um ardor tão raro nos dias de hoje que poderia chamar-se quase uma obsessão.
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Jeremias Catunda foi membro da ACI(Associação Cearense de Imprensa) tendo sido distinguido com o "Chevron" de ouro pelos seus 40 anos de atividade jornalísticas sendo sócio fundador da Associação Cearense de Jornalistas do Interior, escolhido e premiado em seis congressos da classe como um dos mais atuantes membros.
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Sócio correspondente da Academia Sobralense de Estudos e Letras, foi correspondente dos : Diários e Rádios Associados, O Povo, Diário do Povo, Gazeta de Notícias, O Estado, Correio da Semana, Gazeta do Centro-Oeste, Folha Regional, Revista Itaitera do Crato, Almanaque da Parnaíba, Ceará Rádio Clube, Dragão do Mar, Radio Tupinambá, Iracema e Rádio Vale do Rio Poty de Crateús.
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Vereador em três legislaturas seguidas 1947/56, sendo até hoje o mais novo representante do povo na Câmara, eleito em 1947 com 21(vinte um) anos obtendo em 1954 mais de 10% dos votos apurados.
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Por ocasião do Primeiro Centenário do Município, ocorrido em 1983, publicou "Ipueiras, uma síntese histórica" e em 1985 na Primeira Semana Cultural de Ipueiras lançou o seu livro poético : Versos Versus Minha Vontade.
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Foi escrivão e coletor da Coletoria Estadual de Ipueiras, escriturário do DAER (hoje DERT) e inspetor de linhas telegráficas do DCT.
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Jeremias Catunda Malaquias foi uma figura das mais valiosas no campo cultural de Ipueiras, seu trabalho rico em crônicas, poemas e poesias nasceu como fruto de um grande amor pela terra natal.
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No ano em que o grande poeta, jornalista e contista completou seus 83 anos, deixou de forma plácida entre os seus, as labutas terrenas.
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Ipueiras se queda em gratidão a mais um filho que partiu para a eternidade, mais um filho que fez da vida um grande discurso de amor inconteste à terra em que nasceu, criou-se, dela nunca apartando-se até novamente a ela juntar-se.
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Este trabalho é dedicado a equipe do blog Suaveolens que sempre destacou e respeitou os trabalhos de meu pai como a todos que prestaram uma ou duas linhas de respeito por sua partida.
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Bérgson Frota, escritor, contista e cronista, é formado em Direito (UNIFOR), Filosofia-Licenciatura (UECE) e Especialista em Metodologia do Ensino Médio e Fundamental (UVA), tem colaborado com os jornais O Povo e Diário do Nordeste, desenvolvendo um trabalho por ele descrito de resgate da memória cultural e produzindo artigos de relevância atual.

.NOTAS DO BLOG: primeiros versos do livro "Versos Versus Minha Vontade", publicado em julho de 1985:

.Não me chame de poeta
não me agrada, não convem
tenho nome é do profeta
maior de Jerusalém.
Jeremias

Saudação de Tadeu Fontenele

O NOSSO VERSÁTIL JEREMIAS CATUNDA MALAQUIAS
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O nosso Jeremias fez jus ao homônimo do maior profeta de Jerusalém. Todos nós ipueirenses levaremos na memória, quando de nossa passagem para o mundo que ele agora foi, não somente a sua identificação de poeta mas a versatilidade que foi o marco do nosso estimado conterrâneo.
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Jeremias nascido na década de 20 do século passado e eu na década de 50. Começava aí sua condição de versátil: ele conviveu facilmente com gerações diferentes. Vi sua atuação como jogador de futebol e de voleybol, de técnico e juiz de futebol, como político, jornalista, radialista, cronista, orador em todos e quaisquer eventos quando alguém em Ipueiras precisava falar, funcionário público, comerciante, de aficionado pela criação de pássaros (canários e aves - galos de briga), de organizador de festividades e promovente de festas. Neste particular, minha lembrança de uma corrida de bicicletas de Ipu a Ipueiras em que ele narrou pela Rádio Vale do Jatobá todo o percurso, premiou e enalteceu a atuação dos participantes.
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Também, de uma festa que ele promoveu quando da inauguração de energia elétrica de Ipueiras, em 1966, em que denominou de a "Festa do Século", nos salões da Prefeitura, animada pela banda Os Cometas, de Ipu.
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Fez de tudo e deixou sua marca de um apaixonado pela sua terra natal e um defensor ardoroso de Ipueiras - um bairrista, na saudável acepção da palavra.

Minhas saudações a viúva Professora Ruth Frota Catunda e aos filhos Bérgson, Carlson e Waleska.
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Tadeu Fontenele

Saudação de Dalinha Catunda
Olá, Jean Kleber,

Ninguém melhor do que Bérgson para falar com todas as letras de seu pai.

Esta biografia é preciosa para nós que queremos saber, e pouco sabemos, sobre nossos poetas.

Eu tive a felicidade de conviver pessoalmente com Jeremias e trocar idéias com ele, o que com certeza me enriqueceu culturalmente.

Que a sua passagem para outro plano, não enfraqueça nossa lembrança.

Parabéns ao Bérgson pelo texto e a você Jean Kleber, pela postagem e por este espaço aberto para as homenagens aos nossos inesquecíveis valores.
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Dalinha
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Agradeço a Tadeu Fontenele e a Dalinha Catunda, pelas palavras elogiosas à memória de meu pai. Eu e minha família ficamos gratos, ainda por virem de pessoas que com presença sempre se mostraram também filhos dignos de Ipueiras.

Bérgson Frota e Família

14.8.09

O CORTEJO CONFEDERADO

Por
Raymundo Netto

Especial para O POVO 14.08.2009
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30 de julho do ano da graça de 2000 e 9. Era Dia Estadual do Patrimônio Cultural do Ceará. O sol brilhava em raios fúlgidos, como diz o Hino. No Fortim holando-português, uma multidão brincante exortava a cal triste da muralha.
Ali tudo começou... Palhaços, feitos gafanhotos em pernas de pau, anunciavam a tragédia: os condenados seriam executados, fuzilados a sangue frio. Tais desgraçados contrariavam Sua Majestade, El-Rei, o Defensor Perpétuo sem fé nem palavras de nosso Brazil. São loucos?! Soldados, pegados em armas e carrancas, ameaçavam sem “quartas paredes” a mostrar as coronhas a todos que se aproximavam: “Não se grude, não. Não se grude!”
Oswald Barroso, com um riso brincante de quem faz teatro por encantamento, dirigia a execução. À frente, dentre os degradados, Ary Sherlock deixara todas as lágrimas nas masmorras dos séculos. Que final dramático para mais de 50 anos de dedicação à arte...
Ao lado de Ary, outros inconsoláveis Carapinimas, Antas, Bolões, Ibiapinas e Mororós seriam arrastados pela cidade de prédios altos patinados pelo sol, a revelar, em cada auto, a nova ordem das coisas.

Otávio, Paulo Renato e Luís Alves, escuderia do Conselho, após a degradação de alvas curtas e brancas, soltaram as correntes e os tambores davam rufos abafados no ar diante do quartel imaginoso de Marajaitiba. O cortejo seguiria as ruas, assistido por populares revoltados e revoltosos a correr as calçadas conclamando os passantes a notícia: “Eles vão morrer e ninguém diz nada? Ninguém diz... NADA!” Diz, sim: Liberdade!“Te Deum”. “Te Deum”. “Te Deum”.

Demônios imperialistas, a sacudir postes e lampiões, corriam trilhas marcadas de sangue e ódio. Riam-se da loucura dos homens quão repetida em sua estrada de asfaltos. Subiam às árvores, zombavam de nós tão desgraçadamente violentados pela história e confortavelmente acomodados às cerimônias de beija-mão.

Homens rudes apontavam às viúvas, sinos repicavam despedidas e policiais, vestidos em montarias, guardavam o cortejo que se ia alegre de morte.Assim como a bárbara D. Bárbara, do sítio Pau-Seco, o fez na igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, o tristonho Tristão, feito Cristo quedo e varado à bala sob as poeiras duma jurema preta, emergia às sacadas do Sobrado Dr. José Lourenço a denunciar a loucura de todos nós na voz mansa de um Poeta de Meia-Tigela, um misto de Diógenes de Sínope e São Miguel Arcanjo. Outros poetas, escritores, atores, pintores e fotógrafos contemplavam a agonia carnavalizada, a marcha derradeira, a suprema violência do poder de direito, a inconteste agrura de ousar-lhes o pensamento. Na praça-coração, narizes curiosos se amontoavam, perguntavam quem eram aqueles, o que era aquilo? “É isso que é o ‘Fortal’, é?” “É não, abestado, não está vendo que é drama?”

O Bumba-meu-boi, enfurecido, bailava a rebolar as suas fitas de cores de ressurreição... No cortejo seguiam também o Maracatu Az de Ouro, a Capoeira do Mestre Índio, o Reisado de Nossa Senhora das Dores, a Quadrilha do Zé Testinha, os batuqueiros da Caravana Cultural, os índios Pitaguary, a Escola de Samba Independentes da Bela Vista, ao passo que bacamartes lentos se desfaziam em caretas confirmando a dificuldade de se segurar um povo quando se une: Liberdade!

No caminho, crianças metálicas do Vale do Rio Salamanca refletiam o desenlace final, o futuro da covardia, o sem-futuro, a miséria do cárcere coletivo. Um moço magro, Oficial de Ordenanças, seguia à frente da escolta. Clamava o respeito e não permitia o amor, pois o sabia: não iria ser amado: “Viva o Rei?” “Não, vivas o escambau!”No Campo da Pólvora do Passeio Público, finalmente, a noite assomava luminosa nas frondes das árvores. Exaltados gritavam “Liberdade!” numa noite quente. Um a um, os independistas são chamados ao fuzil. O Padre recusa a venda, coloca a mão ao peito e aponta para o povo atônito ao seu redor: “Camaradas, os alvos são estes!”. Preparar... apontar... atirar... fogo, FOGO! — um holofote incendeia, a produção apaga. — Com o tiro, dedos debulhados semeiam a terra, e dela, fértil, nasce um baobá de raízes silenciosas e imensas. Nossas raízes... silenciosas... imensas!A artilharia queixa-se entre mosquetes, salvas de canhões e o massacre continua: “Diz pára! Diz pára!”. Os corpos rebeldes caem como folhas (clichê bonito...) no chão. A vida se vai guiada por girândolas a estourar nos céus da praça, por si, de Mártires. Os famintos vira-latas de todos nós se deliciam com saborosos miolos cheios de idéias revolucionárias vertidos nas areias.

Então, a cidade inteira, toda ela, se viu em negro... era o luto pela liberdade, mas só a Ana, Triste, ficou: Liberdade! Cortejo Confederado: evento comemorativo do Dia Estadual do Patrimônio Cultural,30 de julho, realizado pela Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, com a participação de atores e grupos culturais repetindo o trajeto feito, em 1825, pelo membros da Confederação do Equador e que culminou com o fuzilamento no Passeio Público. O Cortejo teve a direção de Oswald Barroso, textos do Poeta de Meia-Tigela e a participação de atores, dentre os quais, Ary Sherlock.

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Raymundo Netto é autor do romance “Um Conto no Passado: cadeiras na calçada”.
Contato: raymundo.netto@uol.com.br
Blogue: http://raymundo-netto.blogspot.com/
Fotos de Raymundo Netto

10.8.09

AO CRIVO DE DALINHA

Por
Gonçalo Felipe

Senhor Deus eu te agradeço
por tão grande dita minha
por essa oportunidade
que nem esperança eu tinha
Mas sempre tive a vontade
De ver se tem qualidade
Meus versos, com a Dalinha

Ela o meu amor platônico
Fraterno, preso no peito
Chegava a ficar atônito
Nem sei explicar direito
Talvez se eu fosse biônico
Bem reticente e lacônico
Melhorava o meu conceito

Catunda é nome famoso
Tem registro e tem ofício
Cresci ouvindo esse nome
E todo o seu benefício
Hoje já é consagrado.
Invejado e respeitado.
Virou até município.

De Dalinha, alguma coisa
Sei do seu temperamento:
Quando se vê incapaz
Em todo e qualquer momento
O seu furor é demais
Até os sobrenaturais
Têm o seu requerimento

Sua poesia contem o
Sabor do caramelo
Se enfurecida porém
Transforma tudo em farelo
Para provar o que lhe digo
Ela arrancava o umbigo
Do ladrão do bode amarelo.
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Gonçalo Felipe é o poeta de Nova Russas que nos brinda com poesias sobre nós, sobre Ipueiras, sobre nosso pé de serra, enfim sobre a vida de todos nós. Apresentado que foi pelo ipueirense Francisco Costa, integrou-se rapidamente à equipe do Suaveolens com sua capacidade de fazer amigos.
NOTA DO BLOG: O poeta compôs "Ao Crivo de Dalinha" em resposta à saudação de boas vindas da poetisa, co-gestora do blog, por ocasião da publicação de seu poema "O Poeta se Apresenta", no blog Suaveolens.
Oi Jean, Em agradecimento ao Gonçalo.
Gonçalo Felipe, Obrigada,
Pelo carinho e o louvor.
Você que veio como eu,
das bandas do interior.
Trazendo no matulão,
o versejar do sertão
feito um velho cantador.
Dalinha Catunda
RJ,11.8.09

8.8.09

EM HOMENAGEM A JEREMIAS CATUNDA

Por
Hélder Saboia
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Com pesar tomei conhecimento da morte do Jeremias. Do Jeremias Catunda de Ipueiras. Sem favor, talvez o conterrâneo que mais amou seu torrão natal e a ele esteve ligado até o fim de seus dias, nutrindo-se da seiva da terra em cuja ambiência se inspirava para suas narrativas literárias onde os personagens e as coisas eram modelados com a argila do rio Jatobá. Tal o feitiço da terra que o impregnava; tal a força telúrica que o dominava.

Exaltou a velha comuna na poesia e, com ufanismo, à moda do vate maranhense Gonçalves Dias, também versejou: “Minha terra tem palmeira onde canta o sabiá.......”

Escrevia com desenvoltura e maestria e, impressionante, era autodiata. Não portava anel de bacharel. Doutorou-se na universidade da vida, daí sua inata sabedoria. Ao relembrar Ipueiras dos idos de 1950/60 assomará a figura do Jeremias.

Orador inflamado nos palanques das campanhas políticas, defendendo as posições dos candidatos de seu partido nas ferrenhas disputas pelo poder. Promotor das tradicionais festas da sociedade, em especial, o badalado “chitão” no nobre salão do paço municipal.

Desportista, mantinha, juntamente com outros aficionados,os times de futebol e de voleibol neles atuando com profundo bairrismo quando disputava competição com as equipes de outras praças. Brincalhão, não dispensava a lavratura do testamento do Judas antes de sua queda do pau da forca nos sábados de aleluia.

Político, foi vereador interessado pelo crescimento sócio-cultural da terra natal, engajando-se nas lutas pelo desenvolvimento da educação. Foi um autêntico ipueirense; lídimo representante de tantos quantos,assim como ele, propugnaram pelo progresso da terra.

Jornalista arguto, registrava, nos jornais de grande circulação, os relevantes fatos político-sociais cobrando dos representes do município nos foros da Assembléia, quando se fazia oportuno, atuação decisiva em favor das obras necessárias ao progresso da municipalidade.

Esta a imagem que tenho do Jeremias.

Que o Criador o tenha na paz de sua morada celestial.
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A foto de Jeremias na equipe de voleibol é do acervo da prefeitura de Ipueiras-Ce.
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Francisco Hélder Catunda de Sabóia, jurista ipueirense, é membro fundador da “Associação Iberoamericana de Direito Constitucional Econômico – AIDCE”

2.8.09

JEREMIAS CATUNDA, MEU PAI

Por
Bérgson Frota

Os anos se passaram e meu pai, hoje já encanecido adentra as calmas águas das oitenta primaveras.
Durante todo o tempo em que exerceu de forma ativa, dedicada e plena seu papel, sempre soube da real importância que tinha, tem e sempre terá a paternidade.
Nobre tarefa que não se resume em gerar e sustentar um filho.
Mas criá-lo, incutindo nele valores espirituais e morais, mostrando a real primazia dos dois primeiros em relações aos valores materiais, e isto bem o fez.
Nestes anos sua presença constante pela observação soube reconhecer os valores latentes nos filhos e os incentivou a exteriorizá-los para torná-los assim senhores de si.
Sabendo e tendo a responsabilidade de que nos criava para o mundo e nesta consciência agiu de forma equilibrada e responsável.
Quantas vezes meu pai tu não chorastes em silêncio no medo desassossegante de falhar, de não cumprir corretamente sua missão.
E o choro silencioso pelo destino dos filhos por si só já era uma prece ? Sem palavras, mas prece, pois não negava uma sublime rogativa.
Quantas vezes pai pra ensinar não te tornastes duro, quando o coração mandava relaxar e ceder pela alegria temporária porém enquanto a dureza do instante garantiriam horas e anos de alegria. E assim sabendo, firme manteve-se.
Pelo exemplo junto à fiel companheira meu pai muito fez pelos filhos.
Neste caminho muitos percalços, dificuldades superadas, sacrifícios e dores.
Hoje, em silêncio meu pai vê os filhos distantes, mas não deixa de ser feliz, o sentimento de missão cumprida o faz ainda melhor ao lembrar-se de tudo que percorreu e venceu na difícil tarefa da paternidade.
Pai a grandeza e humanidade de teus atos são estímulos imorredouros do dom sagrado do Criador, ao mesmo tempo Pai presente ao mesmo tempo terno Amor.

Bérgson Frota

Meu querido Pai faleceu às 11 horas de 02.08.09




A NOTÍCIA
Amigos de Ipueiras,
Recebi um e-mail de Chico Frota, cunhado de Jeremias Catunda noticiando seu falecimento, acontecido por volta de meio dia na cidade de Fortaleza. Ipueiras fica sem mais um de seus valores literários. Jeremias Catunda, poeta escritor jornalista foi um belo exemplo de amor a Ipueiras. Sua cidade era lembrada em quase tudo que ele escrevia. Hoje vendo via internet o jornal "O Povo" na página jornal do leitor foi publicado um belo texto de Jeremias Catunda, sobre carros de bois. Fiquei triste com a noticia e aqui deixo a familia, meus mais sinceros sentimentos.
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Dalinha Catunda (Em 02.08.2009)


Pois é, Dalinha,
Você disse tudo....
Mais um Ipueirense ilustre que desfalca o grande escrete literário da cidade...
Nossos sentimentos à família enlutada...

Nonato

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A EQUIPE DO BLOG SUAVEOLENS, PROFUNDAMENTE CONSTERNADA COM O FALECIMENTO DO ILUSTRE AMIGO IPUEIRENSE, EXTERNA SEUS SENTIMENTOS ESPECIALMENTE A D. RUTH E AO FILHO BÉRGSON FROTA MEMBRO DO ELENCO DE COLABORADORES DESTE BLOG.

ABAIXO REPRODUZIMOS O ARTIGO DE JEREMIAS CATUNDA PUBLICADO RECENTEMENTE NO JORNAL "O POVO" DE FORTALEZA CEARÁ, UM DIA ANTES DE SEU FALECIMENTO, CONFORME NOS FOI ENVIADO PELO FILHO BÉRGSON FROTA.


O CARRO DE BOIS NA POESIA CEARENSE


Uma das figuras que muito honra a magistratura do Ceará, o nobre e culto amigo, doutor Antônio Nirson Monteiro, diz no início do seu erudito trabalho literário “Achega sentimental para sua memória”: “O carro de bois, veículo rústico de tração animal de antigo uso nas mais diversas civilizações, foi o primeiro grande contributo para a economia brasileira lado a lado com o braço escravo. Esteve presente nos quatro pontos cardeais do Brasil, desde a mais remota data colonial até os dias de hoje”.

No vigor dos nossos 12-14 anos, década de 1930, Ipueiras, como as demais pequenas cidades do interior, era sulcada o dia inteiro pelas possantes rodas de madeira dos “chorosos” carros de bois, veículo rústico que atendia os reclamos do comércio e até servia para transportar pessoas nos dias de festas, casamentos, para os sítios da periferia ou para a zona rural. Carros com mesas feitas de grossas tábuas de angico, o cambão da mesma madeira, uns longos para duas juntas de bois, outros menores para uma junta; as rodas eram especialmente feitas de pau-d’arco, para maior resistência e bem oleadas com extrato de mamona para o gemido característico que fazia vez de buzina e levava também muita saudade aos que na época iam virar o mundo, deixando o interior.

Nas noites enluaradas, o carro de bois ao longe, distante quilômetros até já era ouvido nos ermos das estradas do sertão, gemendo aos gritos dos carreiros, quando não entoando cantigas nativas, loas como: Vai “Mandingueiro” / Vai Azulão / Vai meu carro ligeiro / Vai rei do sertão...

O serviço do carro de boi em nossa terra foi de muita utilidade em anos remotos, se levarmos em conta que hoje está praticamente “aposentado”, pois muito raramente ainda se vê um trabalhando. Para a estação ferroviária (agora desativada) por onde no passado era transportada a produção do município, milho, feijão, mamona, algodão, oiticica, e de onde se traziam as mercadorias para a cidade, distava do Centro quase um quilometro a mais e havia um alto que exigia muito sacrifício das juntas de bois puxando os enormes pranchões ladeira acima.

Recordamo-nos ainda dos carros do Cesário Capeta, Vicente Lúcio (Carnaúbas), Inácio Rufino (Vamos-Ver), Raimundo Alexandre (Estação), Raimundo Victor e Zé Galdino.

Quando rodavam só dentro das ruas era uma festa para a meninada, principalmente no fim das aulas. E se por azar se pegasse um carreiro zangado, quase sempre “queimado” da branquinha, o chiqueirador cantava bonito e vez por outra éramos alcançados pela ponta do relho.

Tempo bom de muita saudade...

Jeremias Catunda

Publicado no O Povo em 01.08.2009

Foto : bolsadearte.com
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À Familia Frota, Catunda e Malaquias Nossas condolências pela partida de Jeremias, ipueirense ilustre, que ora parte para o plano superior, deixando sua história rica de beleza humana e literária como herança para seus descendentes e conterrâneos.
Temos certeza que ele figura no Quadro de Honra da Cidade Celestial, junto ao seu amigo, poeta Costa Matos.
Ontem, em nossa varanda da casa da Tabuba (nominada Dois Sertões em homenagem as nossas origens) Sabino Henrique lia para mim e Adelaíde seu artigo sobre Carros de Bois, pulicado no Caderno do Leitor do Jornal O Povo e nos pedia para reconhecer as pessoas que ele carinhosamente citava.
Com imenso pesar.
Da Família de D. Brigida Marques Cavalcante (que hoje já conta com 57 membros vivos)
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Ruth Frota
Tomei conhecimento hoje do prematuro falecimento do nosso querido amigo, conterrâneo e escritor JEREMIAS CATUNDA, - amigo desde a minha infância e de sofrimento quando em março de 1959 viemos para Fortaleza, morando no Hotel Comercial, do Sr. Demóstenes.
Com completo desconforto, pois morávamos no mesmo quarto eu, Jeremias, Jonas e Toinho Mourão, tomando banho de cuia, pois lá não tinha chuveiro, mas com sacrifício enfrentamos todas as dificuldades e conseguimos vencer, dentro de nossas possibilidades.
A vitória é de quem sofre, luta e trabalha arduamente para vencer nesta difícil vida. Senti muito de saber desta triste noticia de seu falecimento.
Ipueiras agora ficou mais pobre de valores intelectuais, mas a vontade de Deus está acima de nossos desejos, assim envio os meus sinceros votos de pesar, extensivos a toda família e aos Ipueirenses de modo geral, com meus votos de que Deus em sua misericordiosa bondade, o coloque em bom lugar, visto que ele merece.
Renato Bonfim Medeiros e familia
Renato Bonfim (residência)
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Jeremias Catunda traduzia com perfeição o que existe de mais belo em Ipueiras: sua serra, sua vegetação e seu povo. Deus leva para o céu o último grande escritor de Ipueiras, visto que já levou Gerardo Mourão e Costa Matos. Para mim, ninguém amava mais Ipueiras do que Jeremias Catunda. Que a sua obra e o seu legado seja conhecido pelas novas gerações. Todos nós temos o compromisso com essa tarefa. "É assim a minha terra: não há poeta que lhe diga a grandeza; não há descrição que lhe conte os encantos". É assim Jeremias Catunda, não há palavras suficientes para descrever o quão grandiosa foi sua contribuição com a nossa cidade. Que Deus o tenha um um digno lugar. Abraços.
Francisco Braga
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Jeremias Catunda foi um grande poeta e escritor de nossa amada Ipueiras, todos os elogios e homenagens que este blog fez lhe são justas. Adeus Meu Grande Amigo.
Ivanildo Teixeira Rocha de Lima
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MEU GRANDE AMIGO E MESTRE QUE DEUS TE DÊ TODA LUZ E FAÇA SUA ALMA TRILHAR AINDA MAIS O CAMINHO IMORREDOURO DOS QUE NA TERRA POETIZARAM, ESCREVERAM E SOUBERAM DE FORMA BRILHANTE DESTACAR SEU POVO E SUA TERRA. ADEUS GRANDE AMIGO.
Nelson Martins ( Piauí)
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Jeremias Catunda foi meu mestre. Com ele aprendi que cultura se adquire lendo.Vai com Deus Jeremias! O Deus todo poderoso te espera de braços abertos.
Luiz Alpiano Viana
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Nosso grande poeta e escritor, repouse em paz, Ipueiras chora.
Marcos Uchoa
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Associo-me às condolências, com a certeza de que Ipueiras e o Ceará perdem um excelente nome em nosso jornalismo. Que Deus o tenha.
Marcondes Rosa de Sousa
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Meu velho amigo criador de canários, que Deus te acolha junto aos seus. Saudades.
Expedito Lima
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Velho correspondente de jornais da capital em sua cidade, partiu Jeremias Catunda, também polemista e grande orador, excelente poeta, cantando sempre sua terra e coisas de sua terra, Jeremias Catunda Malaquias (mas que todo mundo só o chamando de Jeremias Catunda) foi uma figura presente na vida política e intelectual de Ipueiras, dos últimos 50 anos e, também, mas não menos importante, era casado com a professora Ruth Frota; e deixou três filhos : professor Bérgson, o sociólogo Carlson, e a pedagoga Waleska.
Alencarinas - Jornalista Lustosa da Costa / Diário do Nordeste 11/08/2009.
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