Suaveolens

Este blog foi criado por um cearense apaixonado por plantas medicinais e por sua terra natal. O título Suaveolens é uma homenagem a Hyptis suaveolens uma planta medicinal e cheirosa chamada Bamburral no Ceará, e Hortelã do Mato em Brasília. Consultora Técnica: VANESSA DA SILVA MATTOS

Minha foto
Nome:
Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil

Cearense, nascido em Fortaleza, no Ceará. Criado em Ipueiras, no mesmo estado até os oito anos. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco, na Universidade Rural. Obteve o título de Mestre em Microbiologia dos Solos pelo Instituto de Micologia da Universidade Federal de Pernambuco. Também obteve o Mestrado e o Doutorado em Fitopatologia pela Universidade de Brasília. Atualmente é pesquisador colaborador da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.

11.1.09

FORMATURA

Por
Lin Chau Ming
*
Maio aqui é o mês das formaturas e isso me fez lembrar a imagem de formandos universitários, com becas bem arrumadas, jogando ao ar os chapéus, e regozijando-se ao som de alguma música mais animada. Esse ritual faz parte de vida de 10% da população brasileira. É este, aproximadamente, o número de possuidores de diplomas universitários no Brasil.
*
Fazemos parte dessa elite, a que, por diversos motivos, conseguiu entrar e terminar uma faculdade. Pós-graduação? Esse número é bem menor. Segundo dados da CAPES, são formados no Brasil atualmente cerca de 8 mil doutores por ano. Há emprego para toda essa elite intelectualizada? Não, sabemos que não, vemos isso no dia-a-dia da faculdade, onde colegas formados nos diversos programas de pós-graduação oferecidos não são aproveitados no mercado de trabalho e acabam buscando alternativas que não levam em conta esse esforço realizado.
*
Mesmo profissionais sem pós-graduação não encontram oportunidades de trabalho tão facilmente assim. Nos finais dos anos 70, ainda estudante, preocupava-me essa questão também, pois tinha que arrumar algum emprego depois de formado, para poder ajudar minha família e tocar minha vida. Havia, naquela época, um número assustador: eram formados no Brasil, cerca de 10 agrônomos por dia.
*

Hoje, com o aumento do número de faculdades de Agronomia, principalmente privadas, esse número é bem maior, não sei exatamente qual é, mas não será difícil calcular, basta ver a lista das faculdades de Agronomia e quantas vagas por ano ou semestre cada uma delas oferece.
*
E, mais uma vez, vemos os nossos colegas, sem pós-graduação, em contingentes maiores, disputar cada vaga como se fosse outro vestibular, e desta vez mais concorrido, e também um outro sem-número de colegas que acabam fazendo outras atividades.
*

Encontrei há alguns anos atrás, por acaso, um colega de turma, andando pelas ruas de São Paulo; ele era dono de um pequeno restaurante. Mas, surpreendentemente, no reencontro de minha turma de Esalq, nas comemorações das bodas de prata, vi que a maioria trabalha na profissão.
*

Talvez seja porque, naquela época, os empregos eram mais fáceis de serem encontrados, e o número de candidatos menor.
*

O mercado de trabalho nos Estados Unidos parece ser melhor do que no Brasil. O índice de desemprego é menor. Apesar disso, a concorrência nos empregos que exigem nível superior é enorme.
*

Não sei os números exatos, mas o número de doutores aqui é gigantesco. Nas universidades, falar em apenas terminar a graduação, hoje não garante muita vantagem para os estudantes. É preciso seguir adiante, fazer o mestrado e, logo depois, o doutorado, ou o PhD. A pós-graduação passou a ser, desde há muito tempo, uma etapa necessária para os formandos que tencionam estar em melhores condições na hora da disputa por uma vaga de emprego. E muita gente faz, em todas as áreas do conhecimento. Tornou-se, como diria, arroz-com-feijão, ou seja, bastante comum.
*

Também é comum a existência de milhares de editais para pós-doutores, para trabalho em pesquisas em áreas emergentes, como biotecnologia e pesquisas médicas com câncer. Basta dar uma olhada nas páginas finais das revistas Science e Nature, que funcionam quase como uma seção anúncios classificados para empregos. Quer ter uma chance de conseguir alguma dessas vagas de pós-doc? Pegue essas revistas e escolha uma, talvez haja uma que seja adequada ao seu perfil profissional.
*

Essas vagas de pós-doc funcionam aqui como se fossem empregos temporários, ou seja, têm tempo de duração pré-definido, contam no tempo de aposentadoria e, diferentemente do Brasil, é cobrado imposto de renda, o valor não sai líquido. Vários doutores disputam essas bolsas e quem as consegue, trabalha até o seu final e se inscreve em outra, e assim por diante. A dificuldade aqui em propiciar emprego para gente tão qualificada também é grande. Aqui na Columbia conheci diversos pós-docs “profissionais”, isto é, vão trabalhando nessas vagas até terminar o prazo e logo procuram outras, e vão seguindo a vida.
*

A Capes e CNPq acabaram de lançar o Programa Nacional de Pós-Doutorado, oferecendo bolsas e uma reserva técnica para milhares de doutores sem emprego, por um período de 4 anos. Um refresco para os que ainda buscam alguma chance de encontrar seu lugar ao sol. A Fapesp já tem um programa dessa natureza já há algum tempo, idem o Prodoc da Capes e, apesar do sucesso resultante em informações tecnológicas em diversas áreas científicas, boa parte dos ex-bolsistas ainda não está empregada. Conheço diversos pós-doutores que atuaram na UNESP nesses programas que, findos os períodos de bolsa, não arrumaram emprego na especialidade trabalhada.
*
Enquanto não houver uma estratégia de viabilizar empregos para gente tão qualificada no Brasil, esses programas de pós-doutorado também serão vistos como empregos temporários, paliativos para uma política consistente de ciência e tecnologia.
_______________________________________
Foto: Juliana Muniz, formanda em agronomia da UnB (II-2007). A foto é do acervo da engenheira agrônoma.
_______________________________________
Lin Chau Ming é engenheiro agrônomo pela Escola Superior de Ensino "Luiz de Queiroz" da Universidade de São Paulo (1981), doutor em Agronomia (Produção Vegetal) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1996) e doutor em Ciências Biológicas (Botânica) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1995). Atualmente é professor titular da UNESP em Botucatú-São Paulo. É editor chefe da Revista Brasileira de Plantas Medicinais. Cursa atualmente o pós-doutorado na área de Etnobotânica na Columbia University, em Nova York.

1 Comentários:

Blogger Jean Kleber disse...

Amigos, este é o primeiro artigo de Lin Chau Ming que publicamos em 2009. Assunto interessante para quem está se formando. Desfrutem.

11.1.09  

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial