Suaveolens

Este blog foi criado por um cearense apaixonado por plantas medicinais e por sua terra natal. O título Suaveolens é uma homenagem a Hyptis suaveolens uma planta medicinal e cheirosa chamada Bamburral no Ceará, e Hortelã do Mato em Brasília. Consultora Técnica: VANESSA DA SILVA MATTOS

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Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil

Cearense, nascido em Fortaleza, no Ceará. Criado em Ipueiras, no mesmo estado até os oito anos. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco, na Universidade Rural. Obteve o título de Mestre em Microbiologia dos Solos pelo Instituto de Micologia da Universidade Federal de Pernambuco. Também obteve o Mestrado e o Doutorado em Fitopatologia pela Universidade de Brasília. Atualmente é pesquisador colaborador da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.

23.12.08

RETORNOS DO NATAL

Por
José Costa Matos

O POVO
Fortaleza Ceará
23 Dez 2008 - 02h42min
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Ora, Papai Noel, muita coisa já vai distante. Mas menino é bicho danado para guardar lembranças. Menino e poeta. Cada coisa... A bunda de tanajura comida na rua, contra amidalites. Os desafios da viola de Véi Zuca-do-Oi-Só. A namorada que eu chamava Livrinho de Deus, porque a gente acreditava: a mão de Deus escrevia nela os seus poemas.
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Mas o primeiro presente de Natal que lhe pedi no mundo, Papai Noel, foi um cavalo-de-pau que não me inferiorizasse diante dos moleques de minha aldeia. Eles desciam, como vândalos, do Morro do Papoco e invadiam a Rua de Cima. Um cavalo-de-pau daqueles que só Neném Sapateiro sabia fazer, com uma estrela de pregos dourados na testa, uma orelha desconfiada espetando o futuro e outra velhacamente caída para trás...
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Eu era tão pequeno que não me lembro se você me deu o cavalo-de-pau das minhas rezas de menino. Por isso, estou aqui, dentro da noite do Filho de Deus, olhos arregalados na treva, rodeado de sinos cantadores, pedindo, outra vez, o cavalo-de-pau da minha infância.
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Naturalmente, Papai Noel, os anos que se foram me deram muitas coisas, levaram muitas coisas de mim, fincaram algumas cruzes no caminho, para marcar os lugares onde a terra teima em silenciar as lembranças dos nossos mortos. Muitas mãos deixaram adeuses inexplicáveis nas minhas mãos. Muitas vezes abri a boca para dizer uma palavra boa, mas não tive santidade nem poesia para gerar essa palavra de salvação do meu próximo.
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Trago, hoje, nos olhos, as paisagens de muitas almas e de muitos lugares. Escutei as angústias e as aspirações dos homens nas línguas mais estranhas. Queimei meus passos na travessia do braseiro de várias guerras. Em alguns momentos, a vida me acovardou e eu tive, como Pedro, que negar o meu Mestre diante da criada de Caifás, antes da cantada do galo. Amontoei pedras, tracei a argamassa, mas muitas das minhas construções viraram Babéis, inconclusas, na desolação da Planície de Senaar. Tive algumas experiências da profecia e salvei gentes e animais dos dilúvios que ainda iam acontecer. Meus pés estiveram nos pés de Neil Armstrong, no primeiro dia em que um de nós pisou na lua.
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Ora, Papai Noel, essas vivências todas devem deixar marcas profundas na alma da gente. É por isso que já não sou a mesma criança que desejava um cavalo-de-pau, igualzinho aos brinquedos dos moleques do Morro do Papoco. Igualzinho, agora? Como? Neném Sapateiro está no céu e não vai descer para fabricar um cavalo-de-pau com uma estrela de pregos dourados na testa, uma orelha desconfiada espetando o futuro e a outra velhacamente caída para trás...mas, se a memória não me engana, você me deve ainda o meu cavalo-de-pau. E que ele se chame Esperança. Com ele, eu sei que a amargura não terá velocidade para me alcançar nem forças para me transformar num dos seus apóstolos. Talvez até eu chegue a ser bom. Talvez até eu chegue a ser útil aos irmãos que vão amontoando motivos para maldizer a vida.
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E assim, Papai Noel, você me ajudará a viajar com mais beleza pelos caminhos do tempo do meu Deus. Eu quero que você me dê o cavalo-de-pau da minha meninice.
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Foto: site herdadedesanchares.pt/canais.asp?id canal=93
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José Costa Matos - Poeta e contista premiado da Academia Cearense de Letras e Associação Brasileira de Bibliófilos. Nasceu em Ipueiras-Ceará em 1927. É diplomado em economia. Escreveu os livros: “Pirilampos”, “O Sono das Respostas”, “As Viagens”, ”Na Trilha dos Matuiús”, “Estações de Sonetos”, “O Rio Subterrâneo”, “O Povoamento da Solidão”, além de dezenas de contribuições publicadas em periódicos.

5 Comentários:

Blogger Jean Kleber disse...

Com a presente crônica do grande Costa Matos enriquece-se a comemoração natalina do blog Suaveolens. Desfrutem.

23.12.08  
Blogger Dalinha Catunda disse...

Olá Jean Kleber,

Montar nas saudades, cavalgar lembranças,
E galopar para não perder a esperança, é coisa de poeta mesmo.
Costa Matos traz dentro de si uma herança ipueirense tão forte,
Que quando se transforma em palavras emociona os mais duros corações.
Um abraço,
Dalinha
É realmente um presente este artigo, de Costa Matos, sobre Natal.

23.12.08  
Anonymous Anônimo disse...

Meu Mestre, o seu texto é o meu presente de Natal. Papai Noel mo mandou mais rápido que eu imaginava, que só pode ter vindo no cavalo-de-pau de orelhas tortas: uma apontando para o AMOR e a outra para a ESPERANÇA.

24.12.08  
Anonymous Anônimo disse...

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3.1.09  
Anonymous Anônimo disse...

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6.1.09  

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