Suaveolens

Este blog foi criado por um cearense apaixonado por plantas medicinais e por sua terra natal. O título Suaveolens é uma homenagem a Hyptis suaveolens uma planta medicinal e cheirosa chamada Bamburral no Ceará, e Hortelã do Mato em Brasília. Consultora Técnica: VANESSA DA SILVA MATTOS

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Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil

Cearense, nascido em Fortaleza, no Ceará. Criado em Ipueiras, no mesmo estado até os oito anos. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco, na Universidade Rural. Obteve o título de Mestre em Microbiologia dos Solos pelo Instituto de Micologia da Universidade Federal de Pernambuco. Também obteve o Mestrado e o Doutorado em Fitopatologia pela Universidade de Brasília. Atualmente é pesquisador colaborador da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.

30.10.08

MARGARIDAS

Por
Lin Chau Ming

Muitos bairros da cidade de Nova York são extremamente sujos. Há lixo espalhado por todos os lados, apesar de existirem latas de lixos em praticamente todos os cruzamentos de ruas. O que mais se vê são garrafas PET, sacos plásticos, caixas de papelão ou isopor com restos de alimentos, papéis usados, dentre outros.

Mesmo nas estações de metrô ou dentro dos trens, as pessoas jogam muito lixo no chão, deixando aquela sensação horrorosa, pelo menos para mim. Sem nenhuma cerimônia, jogam o que não querem por todos os cantos. Pergunto: onde está a tão propalada educação das pessoas do Primeiro Mundo? Não sei, parece que está no mesmo lugar que a dos países em desenvolvimento, que eles tanto criticam. Não quero com isso dizer que no Brasil também não haja sujeira pelas ruas; há, e em muito maior quantidade, as pessoas também jogam tudo no chão, infelizmente.

Então, pelo que eu consigo perceber, a paisagem novayorkina está mudando, para pior, desde que cheguei aqui.

Por aqui, não existem trabalhadores de limpeza pública que ficam varrendo as ruas e calçadas, como no Brasil. De tempos em tempos, uma ou duas vezes por semana, passa um veículo com aquela vassoura giratória pelos meio-fios das ruas, fazendo um serviço mais bruto, mal acabado, que tira a sujeira grossa, deixando o restante ainda no chão. Não é aquele serviço de limpeza mais localizada, que deixa mais limpo mesmo.

Repare que, se mal regulados, parece que esses veículos apenas espalham o lixo para outros lugares. Quando há um carro parado no trecho que esse veículo passa (lembro que é proibido estacionar nas calçadas em determinados dias da semana para que esse serviço possa ser mais bem realizado), então o serviço fica pior.

Apenas determinados quarteirões no centro de Manhattan, onde o afluxo de turistas é maior ou a importância e riqueza das empresas ali localizadas é grande, há esse serviço, porém, feito por trabalhadores contratados por companhias privadas. Alguns parques públicos contam com esse serviço também, coordenado porém por associações comunitárias, que contratam alguns trabalhadores para fazer a varrição das calçadas ou outras áreas de uso público.

Ou seja, fora esses lugares, o restante da cidade fica suja. E é preciso realçar que o nível de sujeira não é centrífugo, ou seja, quanto mais se afasta do centro, maior a sujeira, pois há muitos bairros perto do centro extremamente sujos, como o de Chinatown.

Então, como conseguir que a cidade fique limpa? Ou pelo menos, que não tenha tanto lixo jogado no chão? A resposta é igual tanto aqui quanto em qualquer lugar do mundo: educação da população. Sem isso, sem que todos não tomem consciência da necessidade de se manter os lugares limpos, não jogando o lixo no chão, não haverá uma única rua limpa.

Ou será necessário, como no Brasil, por incrível que pareça, a necessidade de os garis varrerem mais de uma dezena de vezes o mesmo lugar, como a Praça da Sé, em São Paulo, para que ela fique sem lixo jogado? Nos intervalos entre uma varrição e outra, o povo continua jogando lixo no chão. Assim, o dinheiro dos contribuintes (o serviço é terceirizado para cartéis da limpeza urbana) vai mesmo, literalmente, para o lixo.

Sempre tive curiosidade em saber a origem da palavra gari. Soube que o apelido dado no Brasil para esses trabalhadores da limpeza pública foi por causa do nome do coordenador desses serviços no Rio de Janeiro, onde, não sabia, era terceirizado para a Companhia Light, uma empresa americana que tinha a concessão de energia elétrica.

Em São Paulo também era dessa companhia, quem não se lembra do antigo prédio da Light, ao lado do viaduto do Chá, onde acho que hoje funciona um shopping-center? O nome do coordenador no Rio era Gary, que em inglês se pronuncia algo como “Guéri”, porém, para os brasileiros, virou, óbvio, Gari. E esse apelido pegou, pois os funcionários eram subordinados a essa pessoa e a associação foi imediata.

Contaram-me outra versão desse nome. Em São Paulo, lembro-me, os garis, a partir de um certo ano, depois de 1970, começaram a trabalhar com uniforme cor de abóbora, um macacão com essa cor tomando praticamente toda a área da vestimenta. E nessa mesma época houve a contratação de trabalhadoras mulheres, que então, carinhosamente, receberam o nome de “margarida”, talvez pela lembrança da cor da parte central da inflorescência, apesar de não ser tão semelhante assim. E o nome margarida foi reduzido para gari, tirando-se a primeira e a última sílaba da palavra. Se a cor original fosse usada, a regra teria produzido um nome horrível, melhor mesmo manter o que acabou ficando.

Alguém sabe outra versão do apelido dado? Seria interessante saber, ver alguma relação que o povo fez, nesse nosso país tão diverso culturalmente e criativo.

Não sei qual seria o apelido desses trabalhadores, caso existissem por aqui. Margarida em inglês é Daisy. Será que ficaria bem?

Foto: site contagem.mg.gov.br


Lin Chau Ming é engenheiro agrônomo pela Escola Superior de Ensino "Luiz de Queiroz" da Universidade de São Paulo (1981), doutor em Agronomia (Produção Vegetal) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1996) e doutor em Ciências Biológicas (Botânica) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1995). Atualmente é professor titular da UNESP em Botucatú-São Paulo. É editor chefe da Revista Brasileira de Plantas Medicinais. Cursa atualmente o pós-doutorado na área de Etnobotânica na Columbia University, em Nova York.

3 Comentários:

Blogger Jean Kleber disse...

Mais um instrutivo artigo do professor Lin Chau Ming. Desfrutem. Abraços.

30.10.08  
Blogger Dalinha Catunda disse...

Achei bem interessante também esse artigo de Lin Chau Ming.
A título de curiosidade fui pesquisar e no Portal Salvador encontrei uma versão que vale a pena postar como comentário.

"Origem da palavra gari

O ponto alto da festa será a comemoração do Dia do Gari. Pedro Aleixo Gary foi o primeiro homem a assinar um contrato de limpeza urbana no País, durante o período imperial. Em sua homenagem a palavra gari virou sinônimo de varredor.

Gary costumava reunir no Rio de Janeiro, sua cidade natal, funcionários para limpar as ruas, que eram higienizadas sempre após a passagem dos cavalos. Os cariocas se acostumaram com esse trabalho e sempre mandavam chamar a ¿turma do Gari¿ para executá-lo. Aos poucos e de tanto repeti-lo, a população da cidade associou o sobrenome de Pedro Aleixo Gary aos funcionários que cuidam da limpeza das ruas. Assim, o nome ¿gari¿, já ¿abrasileirado¿, se espalhou para o restante do País.

Pedro recebeu ainda uma homenagem da Companhia Municipal de Limpeza Urbana do Rio de Janeiro (Comlurb), que mantém no estado do Rio de Janeiro uma fábrica de utensílios para limpeza urbana com o nome do antigo agente de limpeza."

30.10.08  
Blogger Jean Kleber disse...

Muito bom, Dalinha. Isso é formidável. Essa participação é o que dá força ao blog. Valeu.

30.10.08  

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