Suaveolens

Este blog foi criado por um cearense apaixonado por plantas medicinais e por sua terra natal. O título Suaveolens é uma homenagem a Hyptis suaveolens uma planta medicinal e cheirosa chamada Bamburral no Ceará, e Hortelã do Mato em Brasília. Consultora Técnica: VANESSA DA SILVA MATTOS

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Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil

Cearense, nascido em Fortaleza, no Ceará. Criado em Ipueiras, no mesmo estado até os oito anos. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco, na Universidade Rural. Obteve o título de Mestre em Microbiologia dos Solos pelo Instituto de Micologia da Universidade Federal de Pernambuco. Também obteve o Mestrado e o Doutorado em Fitopatologia pela Universidade de Brasília. Atualmente é pesquisador colaborador da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.

24.8.08

AS CARNAÚBAS DE IPUEIRAS

Por
Bérgson Frota


No começo eram só carnaubeiras, crescendo entre os morros que cercavam aquele vasto vale cortado por um tímido rio.

De longe ouvia-se o farfalhar dos leques quase imperiais da “árvore da vida”.

Depois chegaram os homens, mulheres e animais.

E o sítio que era um terreno de áreas empoçadas e farto barro-de-louça virou fazenda, até uma capela ganhou.

E as carnaubeiras ?

Diminuíram, mas ainda eram em grande número. Tinham serventia em quase tudo na região, parecia que delas nada se perdia.

As esbeltas árvores de porte tão elegante quanto festivo, formavam um bucólico panorama quando ao sabor do vento forte que dobrava o vale em direção à Ibiapaba azul, ensaiavam uma dança bela, movendo sem rumo ao arrepio do vento, desafiando o tempo com seu verde gaio, inverno e verão inalterado.

Assim era nos primeiros anos Ipueiras, uma fazenda que tornava-se com o tempo cada vez mais povoada.

Logo, mais e mais moradores chegavam, e não demorou para virar vila.

As carnaubeiras continuaram, embora em menor número, porém mais numerosas nos arredores.

Quando a vila se tornou cidade, a “cidade das carnaúbas” começou a transformar-se. As parcas ruas ainda mantiveram como adorno algumas carnaúbas soltas no meio do tempo, até mesmo as que por necessidade pediam o corte, foram mantidas.

Sentia-se no povo um instinto antigo em preservá-las.

O progresso trouxe calçamentos, e na cidade só restaram enfim as carnaubeiras que por sorte se situavam nas nascentes pracinhas, o resto era derrubado, e somente na lembrança dos mais velhos ficou os vultos das árvores já ausentes.

Lá longe porém, onde as luzes da cidade parecem estrelas, como uma tribo de território perdido ainda restam muitas delas. E nas suas copas como no passado, aninham-se lépidas graúnas.

O tempo passa e a “árvore da vida” resiste, como se lembrando o passado distante, longe da cidade que outrora foi sua. Desafiando o sol tórrido do sertão, resistindo aguerridamente na terra mãe que lhe gerou a semente.
_______________________________
* Foto site seagri.ce.gov.br/carnaúba.htm :
_______________________________.
Bérgson Frota, escritor, contista e cronista, é formado em Direito (UNIFOR), Filosofia-Licenciatura (UECE) e Especialista em Metodologia do Ensino Médio e Fundamental (UVA), tem colaborado com os jornais O Povo e Diário do Nordeste, desenvolvendo um trabalho por ele descrito de resgate da memória cultural e produzido artigos de relevância atual.

7 Comentários:

Blogger Jean Kleber disse...

Importante e bem escrita crônica sobre a natureza antes e depois da "colonização" de Ipueiras. Bem vinda peça de resgate, aliviando com sua beleza estes dias tensos de agosto. Obrigado, professor Bérgson

24.8.08  
Blogger Dalinha Catunda disse...

Pois é Jean Kleber,
Seria bom não falar em mortes se mortes não existissem.
Bela a crônica, e maravilhoso o resgate, de Nosso querido amigo, Bérgson.
Só que, nossas carnaubeiras em sua grande maioria. Hoje não passam de esqueletos e cinzas. Sobrevivem nas crônicas de Bérgson, Jeremias e em meus poemas.
Temos que chorar nossos mortos, sim.
Dalinha Catunda

24.8.08  
Blogger Jean Kleber disse...

Dalinha, estou com você.Temos que chorar nossos mortos sim. Sobretudo homenagea-los e contar para todos os pósteros os seus feitos nessa vida. Se é poeta,escritor ou artista plástico ou do teatro,suas obras devem ser divulgadas. Assim vencemos em parte a nossa finitude. Vencemos o esquecimento. Entendí errado o incômodo da Lurdinha quanto à fase obituária do blog. Achei de imediato que era quanto ao noticiário intenso, pois tomei a iniciativa de publicar as matérias que Tereza, com muita competência, passava ao grupo. Depois ví que a crítica se dirigia às matérias de homenagem. Aí ja entendo diferente. Não devemos poupar homenagens. Estou com você. A bela matéria do Bérgson sobre as carnaúbas nos mateve em Ipueiras, desta vez chorando nossas perdas do patrimônio "natureza". Beijo.

24.8.08  
Anonymous Anônimo disse...

Meu Deus, agora é a morte das carnaúbas. Gente vamos saudar a vida que nunca se apaga seja animal ou vegetal. Que tal matérias sobre o aniversário de nossa terrinha, desculpe o senhor de Portugal do comentário aí de cima , mas de Ipueiras, nossa viva e amada Ipueiras. Beijos.

25.8.08  
Anonymous Anônimo disse...

Estranho as pessoas que entram em blogs para promoverem os seu, sem sequer ter a educação de comentar a matéria. Pura falta de sensibilidade.

25.8.08  
Blogger Jean Kleber disse...

Amigos.Os comentaristas são sumamente importantes para o blog e merecem o apreço de seus gestores. Os comentários desta quadra da vida do blog estão muito bons e os comentaristas têm demonstrado sua qualidade ao comentarem com elegância, mesmo que eventualmente polemizando. Estamos todos de parabéns e agradecemos por suas sugestões pois um blog vivo é um blog participativo. Obrigado a todos.

25.8.08  
Anonymous Anônimo disse...

As carnaúbas de Ipueiras me faz lembrar minha infância em Morada Nova, lá onde vivia num sítio distante o vento fazia as carnaubeiras dançarem. Fiquei feliz porque não sei escrever de forma tão bonita uma homenagem às árvores que cercavam minha casa e que passaram a povoar minha vida.Parabéns Bérgson Frota.

27.8.08  

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