Suaveolens

Este blog foi criado por um cearense apaixonado por plantas medicinais e por sua terra natal. O título Suaveolens é uma homenagem a Hyptis suaveolens uma planta medicinal e cheirosa chamada Bamburral no Ceará, e Hortelã do Mato em Brasília. Consultora Técnica: VANESSA DA SILVA MATTOS

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Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil

Cearense, nascido em Fortaleza, no Ceará. Criado em Ipueiras, no mesmo estado até os oito anos. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco, na Universidade Rural. Obteve o título de Mestre em Microbiologia dos Solos pelo Instituto de Micologia da Universidade Federal de Pernambuco. Também obteve o Mestrado e o Doutorado em Fitopatologia pela Universidade de Brasília. Atualmente é pesquisador colaborador da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.

3.7.08

VINTE E QUATRO SEMANAS

Por
Lin Chau Ming
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Não sou da geração Paz e Amor e nem vivenciei o Woodstock; sou de uma geração posterior, que já foi chamada de “a geração da década perdida”, por ter sido aquela em que a ditadura militar brasileira cerceou as liberdades democráticas e colocou o país num período negro que não deve nunca mais retornar.
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Junto com atividades políticas-estudantis, (parte) da minha geração também quis sentir os prazeres da liberdade sexual conseguida pela geração anterior. Jovens, algumas colegas de turma, e de toda a Esalq, colocaram em prática muitos desses princípios e de seus íntimos desejos. Era comum o fim de relações amorosas com uma velocidade que me deixava perplexo, dada minha formação mais conservadora nesse tocante. Namorados (naquela época não havia o “ficar”) iam, namorados (outros) vinham. Claro que também havia os casais mais tradicionais, afinal, era uma época de transição e também, nem todos pensavam da mesma maneira.
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Uma amiga da época, confidenciou-me que, estava grávida de um colega de turma, mas que havia sido um deslize do momento de emoção e prazer, e que não queria o filho. Tínhamos uma intimidade que permitia esse tipo de confidências. Iria fazer um aborto, em São Paulo, capital, onde ela morava. Mas em que hospital? Pergunta idiota, porque naquela época, não havia hospital autorizado a fazer isso, ela iria parar nas mãos de algum “açougueiro”, como se chamava na época as pessoas que faziam tal procedimento. Palavra terrível, não?
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Sofreu um bocado depois do aborto. Não por remorsos por ter retirado o filho que estava no início da gestação, mas pelas dores nas partes que o tal procedimento lhe impusera. Ficou nessa situação cerca de duas semanas, depois, as aulas puderam ser assistidas normalmente.
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Tempos depois, nova gravidez, com o mesmo colega. Falar em métodos anticoncepcionais não era usual. Camisinhas, não existiam naquela época, finais dos anos 1970, Posso estar enganado, mas , pelo menos, não eram encontradas com a facilidade de hoje. Havia as pílulas anticoncepcionais, estas mais comuns, o DIU e o tampão, estes bem mais complicados de serem obtidos. E então, o que fazer?
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Nova “consulta” em São Paulo. E mais algumas semanas condoída. De novo, não o coração, mas o corpo. Outras colegas passaram por situações semelhantes. O aborto, naquela época, para algumas jovens, já era um assunto definido, por liberalidade.
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Várias gerações depois, o assunto volta à tona. A Igreja Católica, com seus seguidores, mantém a oposição natural, por filosófica. Algumas sociedades médicas apoiando, alegando motivos como sendo caso de saúde pública. No Brasil, há uma proposta apoiada pela Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, propondo a ampliação da permissão do aborto para além dos casos de estupro ou risco de vida da mãe e a realização de operações em hospitais da rede pública, até o terceiro mês de gestação.
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O Governo português acabou de aprovar uma lei visando legalizar o aborto, até um período de 10 semanas de gestação. Segundo o ministério da Saúde patrício, mais de 10 mil mulheres são internadas anualmente por complicações relativas aos abortos ilegais.
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Na cidade do México, situação semelhante, até a décima segunda semana de gravidez. Como no Brasil, há uma extensa rede de clínicas clandestinas que tem esse tipo de atividade, feita, na maioria das vezes, em precárias condições de infraestrutura e sanitárias. Milhares de mulheres também morrem nesses locais, todos os anos, a maioria delas de classes sociais mais baixas.
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Nos países onde a legalização do aborto é uma realidade, um dos argumentos mais utilizados é o direito à informação e à (própria) decisão sobre o corpo, ou seja, a mulher grávida deve saber dos riscos que isso envolve, não somente pela natureza da operação médica, mas também nos aspectos éticos, morais e filosóficos, devendo ter um período de reflexão, antes da tomada definitiva da decisão.
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Aqui nos Estados Unidos, o aborto foi legalizado em 1970, sendo o estado de Nova York um dos três primeiros estados a regulamentá-lo. Desde então têm havido diversos movimentos contrários, imediatamente rebatidos por grupos favoráveis. Há dois princípios que legitimam o aborto, pela legislação deste estado: a saúde da mulher deve vir em primeiro lugar e o direito dela de controlar seus destinos reprodutivos.
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É possível ver nos jornais, anúncios, de profissionais e clínicas oferecendo apoio para esses procedimentos. Anuncia-se, sem maiores parcimônias, que o trabalho é feito em ambientes com a maior privacidade possível, confidencialidade, sem questionamentos de ordem moral ou status social, por profissionais qualificados, com mais de 25-30 anos de experiência, com novas técnicas, em situações de gravidez de até 24 semanas de gestação.
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São anúncios ao lado de anúncios de teores semelhantes. Aceitam-se planos de saúde, seguros e cartão de crédito. Oferece-se serviço rápido, sem espera, 24 horas por dia, sete dias por semana. As mulheres não devem se preocupar, pois, segundo os anúncios, serão sem dor e com bons preços. Alguns oferecem 25% de descontos.
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No país do capitalismo “selvagem”, a concorrência é estimulada, há milhares de clientes potenciais, todos os dias, e, afinal, a propaganda é a alma do negócio, para qualquer tipo de atividade, mesmo nas que atingem outros níveis de preocupações, da natureza mais íntima da mulher. Nessas situações, contudo, uma coisa é certa, nem sempre vence o melhor.
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O que pensariam minhas amigas da faculdade? Não sei, hoje elas devem estar preocupadas com seus netos.
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Foto de grávida: site laionmonteiro. wordpress. com
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Lin Chau Ming é engenheiro agrônomo pela Escola Superior de Ensino "Luiz de Queiroz" da Universidade de São Paulo (1981), doutor em Agronomia (Produção Vegetal) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1996) e doutor em Ciências Biológicas (Botânica) pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1995). Atualmente é professor titular da UNESP em Botucatú-São Paulo. É editor chefe da Revista Brasileira de Plantas Medicinais. Cursa atualmente o pós-doutorado na área de Etnobotânica na Columbia University, em Nova York.

1 Comentários:

Blogger Jean Kleber disse...

Mais um artigo de meu amigo Lin. Ele costuma ir fundo, como é corrente entre os colaboradores deste blog. Parabéns a todos nós.

3.7.08  

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