Suaveolens

Este blog foi criado por um cearense apaixonado por plantas medicinais e por sua terra natal. O título Suaveolens é uma homenagem a Hyptis suaveolens uma planta medicinal e cheirosa chamada Bamburral no Ceará, e Hortelã do Mato em Brasília. Consultora Técnica: VANESSA DA SILVA MATTOS

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Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil

Cearense, nascido em Fortaleza, no Ceará. Criado em Ipueiras, no mesmo estado até os oito anos. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco, na Universidade Rural. Obteve o título de Mestre em Microbiologia dos Solos pelo Instituto de Micologia da Universidade Federal de Pernambuco. Também obteve o Mestrado e o Doutorado em Fitopatologia pela Universidade de Brasília. Atualmente é pesquisador colaborador da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.

7.6.07

QUESTÃO DE GOSTO

Por
Dalinha Catunda

Ipueiras para mim, sempre teve um sabor especial. Revivo nas lembranças do presente o doce gosto do passado. Muitas vezes incomodo os menos saudosos com minha cantilena, porém, conto com uma boa parcela de adoradores do passado que se enlevam com meus saudosos suspiros. Minha intenção não é apenas remoer tristezas, meu prazer maior é desenterrar e espalhar alegrias.

Assim sendo, vou falar dessas coisinhas de cidade do interior que ficam grudadas na gente, e por mais tempo que se possa ter numa cidade grande, elas não arredam. Eu sempre relaciono comer a prazer, e prazer a pecado e pensando assim, muitas vezes pequei pela gula. Difícil resistir às guloseimas que invadiam Ipueiras nos bons anos de minha alegre existência.

Aos sábados era sagrado comer bolo manzape na feira. Por mais que espalhassem que aquele bolo gostoso, embrulhado na palha da bananeira, era amassado com os pés, não inibiam os fiéis compradores.

Na esquina do Simão se tomava oricuri, na esquina do Guarani chupávamos o picolé de dona Joaninha. O de abacate era saborosíssimo, ficou na História. A bodega do Nicácio era o "point" dos estudantes do colégio Otacílio Mota que faziam fila para merendar pão recheado com doce de leite. Era a merenda da hora.
Ah!!! E as palmas do Olegário? A criançada vivia de boca branca de tanto comer palma, mas não bastava ser palma, tinha que ser do Olegário. No "bulim" (biscoitos feitos com goma), as mãos mágicas eram de dona Etelvina, mãe da professora Alice Paiva. Os biscoitos feitos por ela desmanchavam-se na boca.

Tínhamos ainda, dona Neném do Genáro especialista em pirulitos, aqueles... vendidos em tábuas, aos gritos dos meninos. Recordo-me das chupetinhas feitas com o mesmo material do pirulito, porém não sei quem as fazia.Fica aí uma pergunta no ar.
O peito de moça era um pão de massa fina, melado por cima, e super saboroso. Acho que todos os padeiros da época faziam o tal pão. Engraçado que este pão era vendido, num cesto, só à tarde, de porta em porta. Há um salgado, chamado canudinho, recheado com paçoca, que nunca comi em outro lugar, com aquele gosto. Este eu considero um sabor típico de Ipueiras. Lá ainda se faz, mas o recheio é cremoso, porém, prefiro o sabor antigo.

Um sabor que ficou impregnado em mim, foi o do buriti. Sempre que chego em Ipueiras procuro a pamonha de buriti, para fazer doce ou a sembereba, que é um suco engrossado com farinha. Só que depois de tomado, bate um sono... A bolacha fogosa, não foi uma de minhas preferidas, mas sei que fez a alegria de muitos. Farinha de pipoca! Comi muito. Mas, outro dia fui tentar e me entalei. Com certeza perdi a prática.

Outra coisa que comi em criança, de me lambuzar, mas meu paladar adulto não aceita mais, é ovo batido com açúcar. Eu não me perdoaria se terminasse esse relato sem falar de Vicente, o padeiro mudo, que falou quando a imagem de Nossa Senhora de Fátima passou por Ipueiras vinda de Portugal. Dele era o pão mais gostoso que já provou minha cidade.

Vou sempre afirmar que, Ipueiras tem um sabor especial, mas lógico, que é questão de gosto.
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Foto doce de buriti: sites.uai.com.br/.../lontra_docedeburiti.htm
Demais fotos: próprias deste blog
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Maria de Lourdes Aragão Catunda – Poetisa, escritora e cordelista. Nascida e criada em Ipueiras-CE, conhecida popularmente como Dalinha Catunda, vive atualmente no Rio de Janeiro. Publica nos jornais "Diário do Nordeste" e "O Povo", nas revistas "Cidade Universidade" e "Municípios" e nos blogs: Primeira Coluna, Ipueiras e Ethos-Paidéia. É co-gestora convidada do blog Suaveolens.

5 Comentários:

Blogger Jean Kleber disse...

Um relato de dar água na boca. Praticamente todas essas iguarias encontram-se nos dias de hoje na feira dos sábados em Ipueiras. As vezes temos a impressão de que o tempo parou. Claro, o tempo seguiu mas o sabor nos faz sintonizar nossa história.

7.6.07  
Anonymous Anônimo disse...

Dalinha seus trabalhos são de cair o queijo, você se entrega no que narra, vejo na primeira foto o antigo mercado da farinha já demolido, se errado me corrija,mas voltando ao seu trabalho, as coisas gostosas lá são de dar água na boca,principalmente o clima onde se compra, a simplicidade das pessoas e a alegria com que vendem seus produtos. Esta é Ipueiras, sempre a nos trazer lembranças e despertar sabores. Bérgson Frota

10.6.07  
Anonymous Anônimo disse...

Queria agradecer a Jean Kleber e Bérrgson por viajarem sempre comigo, nasse trem de Ipueiras.
Bérgson,
Esse galpão é o atual. lá se vende: farinha, feijão, milho, rapadura, tijolim, alfenim, batida palmas, entre outras coisas.
Jean Kleber, obrigada por decorar minha crônica, com gravuras típicas e saborosas e por enriquecer meu trabalho com a presença de: Eloisa, Vanessa e Ivanzinho.

11.6.07  
Anonymous Luciana disse...

Boa tarde,

Vivo à procura da receita de palmas. Pesquisando pela internet achei seu blog. Você teria alguma?

Obrigada e parabéns por escrever tão lindamente!

9.10.18  
Blogger Dodô disse...

Olá, gostaria tanto de conseguir a receita de palma! Amei o seu texto.bjs.

18.8.19  

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