Suaveolens

Este blog foi criado por um cearense apaixonado por plantas medicinais e por sua terra natal. O título Suaveolens é uma homenagem a Hyptis suaveolens uma planta medicinal e cheirosa chamada Bamburral no Ceará, e Hortelã do Mato em Brasília. Consultora Técnica: VANESSA DA SILVA MATTOS

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Local: Brasília, Distrito Federal, Brazil

Cearense, nascido em Fortaleza, no Ceará. Criado em Ipueiras, no mesmo estado até os oito anos. Foi universitário de agronomia em Fortaleza e em Recife. Formou-se em Pernambuco, na Universidade Rural. Obteve o título de Mestre em Microbiologia dos Solos pelo Instituto de Micologia da Universidade Federal de Pernambuco. Também obteve o Mestrado e o Doutorado em Fitopatologia pela Universidade de Brasília. Atualmente é pesquisador colaborador da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília.

31.5.07

DOIS DIAS A REVISITAR IPUEIRAS - PAPOS E REFLEXÕES NA ESTRADA


Introdução do blog:
O relato de recente viagem do professor Marcondes Rosa de Sousa a Ipueiras é relativamento extenso e rico em reflexões de grande significado social. O blog "Suaveolens" ousou dividi-lo em pequenos capítulos, objetivando a própria finalidade do relato: "reflexões".

CAPÍTULO I
Cinco da manhã. Nas principais artérias, Fortaleza permitia que, rápido, o trânsito escoasse. E, assim, em pouco tempo, estávamos na estrada a nos levar às “retiradas águas”, onde prevíamos tudo resolver em dois já programados dias. No carro, Solange , eu e, a convite nosso, Expedito “Clara”, perito na estrada – a da Matriz inclusive. Walmir, o de nos irmãos nascido em Ipueiras, cumpria programação em Porto Ale gre , acompanhando tudo pelo celular...

Para nós, era um retorno, após nossa estada lá, em agosto de 2.003, quando a imagem de Nossa Senhora de Fátima, havia voltado a Fortaleza (Ce), desde quando lá estivera. Dessa época, eu menino, fizera o papel de Jacinto, o pastorzinho a quem, além das irmãs, teria aparecido a Virgem. Isso, na noite quando ali se dariam vários milagres. Não pude presenciá-los. Cansado, fui para casa dormir e, dia seguinte, ouvir eufóricos relatos em toda a cidade. Solange , á época, era interna no Ipu e, naquele dia, ali não esteve presente. Depois, na inauguração do Arco do Triunfo, seria, sim, uma das princesas (ela e Miraugusta ao lado de Elisa Maria Mourão, a rainha), registrada hoje nas fotos do “site” de Ipueiras e nos relatos de Bérgson Frota.

Nossa missão, transferir para a Associação Grupo União Familiar de Lagoa dos Tavares (AGUF-LT), presidida por Antônio Rodrigues da Silva, conhecido como “Antônio Otávio”, costume na serra a expressar “filho de Seu Otávio” (conheci até um “Luiz Luiz...), o Sítio Buriti. Tudo financiado por programa do Ministério do Desenvolvimento Agrário, por meio da Secretária do Desenvolvimento Agrário, responsável pela gestão do Fundo de Terras, em articulação com órgãos do Estado do Ceará e Banco do Brasil.

O entorno a evocar “releituras” ...

Na estrada, papos, a troca de impressões, entre os três. Tudo em mim, porém, a evocar “releituras”. Estrada, a de Canindé, a nos evocar os baiões de Luís Gonzaga: “quem é rico anda em burrico, quem é pobre anda a pé”. Progressos, sem dúvida. Não se vêem mais ali burricos, nem os pobres andando a pé. Bom asfalto, o veículo desliza, comodamente, por volta dos 110 quilômetros . À margem da estrada, a anteceder o sol, forte garoa, cerração, a nos embaçar, do carro, o pára-brisa. Mesmo assim, a paisagem é, ao contrário da ocorrente em outras épocas, de forte e contínuo verde.

Quantas vezes, ao por ali passarmos, tudo seco. Tempos esses, os de verão, lembrados pela canção de Gonzaga:

Acauã vive cantando,
Durante o tempo do verão,
No silêncio das tardes agourando,
Chamando a seca p’ro sertão.

(...) Na alegria do inverno,
Canta sapo, jia e rã,
Mas, na tristeza da seca,
Só se ouve o acauã”

À nossa frente, vai surgindo, aos poucos, a Basílica de São Francisco, em Canindé. E a paisagem, em mim, desperta as muitas vezes que lá estive: a) pró-reitor de extensão da UFC, a acompanhar os trabalhos de pesquisadores sobre o imaginário de nosso povo, expresso nas promessas e ex-votos, e do agradecer das esmolas com a tríade “Deus lhe dê saúde, fortuna e felicidade”; b) o pagar das promessas de minha mãe Adaísa, em agradecimento a São Francisco por me ter poupado, garantia ela, o ir-me daqui para a outra vida, quando de meu primeiro enfarto; c) em homenagem que, por sugestão de Dona Violeta Arraes Gervaiseau (irmã de Miguel Arraes), prestávamos, ali, a Dom Hélder Câmara, quando eu a cuidar de meios de comunicação áudio-visual, integrava comissão mista (francesa e brasileira), na captação de imagens com vistas à divulgação, pelo País e Europa, da grande festa. E tantas outras, que não mais me vêm à lembrança...

Sol, enfim, a brilhar. Expedito nos chama a atenção, à margem da estrada, para a pouca utilização das terras destinadas, como outrora, à agricultura e à produção de alimentos. À nossa frente, improvisados barracos, postados ante uma visível área de fazenda ou sítio destinada à produção agrícola.

Expedito explica-nos: “È o MST!”. Solange estranha, logo, a sujeira, o desconforto das barracas. Expedito faz críticas ao movimento. E tece, saudoso, elogios a Dom Fragoso, com quem trabalhou. Para ele, agentes do MST hoje são itinerantes em todo o País, para promover a baderna. Não se assentam...

Para Dom Fragoso, a reforma agrária tinha um destino: assentar os trabalhadores numa dada área. O bispo de Crateús, testemunha-nos Expedito, queria os agricultores literalmente “assentados”. Era contra as atitudes de violência, ora estourando. Apostava na dignidade do mandamento divino do “comerás o pão com o suor de teu rosto”. E a terra havia de ser usada para a produção de alimentos.

Nessa esteira, conclui-nos Expedito, é que viria navegando a Associação Grupo União Familiar de Lagoa dos Tavares (AGUF-LT), assentando-se no Buriti e na Lagoa dos Tavares, com vista à exploração ali, da serra úmida, na histórica Matriz da Serra dos Cocos, para a exploração da agricultura familiar e a produção de alimentos. “Não à esmola! Mas sim ao trabalho”, concluí comigo, novamente Gonzaga e Zé Dantas, com o baião “Vozes da Seca” a me voltar à mente...

Esmola, a um homem que é são
ou lhe mata de vergonha
ou vicia o cidadão.
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Foto estrada: www.senado.gov.br
Foto acampamento: www.vitruvius.com.br
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Marcondes Rosa de Sousa, advogado, é professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade Estadual do Ceará (UECe). É uma das maiores autoridades em educação do Brasil. Ex-presidente do Conselho de Educação do Ceará e do Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais de Educação, é Colunista do jornal " O Povo ", onde mantém seus artigos quinzenais.

2 Comentários:

Blogger Jean Kleber disse...

Trabalho muito interessante do prof. Marcondes a ter seqüência com lances muito atrativos. Publicaremos com muito gosto. Parabéns.

31.5.07  
Anonymous Anônimo disse...

Parabéns ao sr. Marcondes Rosa, a narrativa cativa e nos deixa ansioso pela a continuação.

2.6.07  

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